Porto, na Gato Vadio
À malta mais nova antifa: tenho 64 anos e já vi o suficiente para dar-vos um conselho sem qualquer paternalismo já que devem estar fartos dessas elucubrações de tipos obesos de tanto «achismo». A direita, junto com o PS, entendeu desmantelar, em décadas, o SNS, a educação pública, a habitação social, degradar salários e carreiras, impedir o acesso à justiça (claramente parcial), favorecer e fortalecer até ao inacreditável as multinacionais. Aceitou o Tratado de Lisboa e foi o melhor aluno da Europa no desmantelamento do tecido produtivo do país; apostou em dar cabo dos agricultores e dos pescadores com grande violência para o seu património; encolheu os ombros à floresta a arder; recebeu a troika. contente, radiante e humilhou-vos, mais a nós e aos reformados. Obrigou-vos à emigração. Escarneceu da cultura e do pensamento. Abocanhou a comunicação social. Riu-se da Constituição não a cumprindo nos seus valores mais solidários e sociais. Privatizou à bruta, retirando do interior do país os correios, as escolas, os centros de saúde, os bancos, os comboios e reduziu a circulação dos habitantes do interior até às cidades. Entretanto, o PS, o PSD e o CDS, há décadas no poder, aceitaram, ou na melhor das hipóteses, esconderam a corrupção larvar, a boçalidade política de quem tem lugares assegurados e o compadrio político das jotas e do centrão. Percebem de onde vem a revolta?
Isto não tem nada a ver convosco, nem connosco, nem com os mais velhos e muito menos com as crianças deste país. A esquerda, que agora se apoda na comunicação social, de «extrema», sempre defendeu outras políticas. Sempre resistiu e esteve ao lado dos desfavorecidos, culpados por esta gente de direita de serem pobres. E já passámos bem pior, por muito pior no plano político. Os resultados, são resultados eleitorais. De nada valem se não tiverem continuidade na análise atenta do aproveitamento que o fascismo faz deste lindo trabalho de anos seguidos. A luta far-se-á por todo o lado e principalmente onde estudamos, onde aprendemos sempre, onde trabalhamos e na rua, associando-nos fortemente e levando mais a sério uma coisa que os gregos, avisados, inventaram: a política. E, já agora, o ostracismo para quem atentava contra a democracia. Abraço forte, mas a política não se faz aqui no facebook. Dá-nos, propositadamente e com um forte controlo das nossas vidas,, uma perspectiva completamente errada da realidade. Isso também se aprende depressa.
António Luís Catarino
25 de janeiro de 2021 (um dia após as eleições presidenciais que deu o 3º lugar a André Ventura, atrás de Ana Gomes e Marcelo Rebelo de Sousa e publicada no facebook)