Uma pequena notícia e opinião divulgadas por um dos grandes
defensores da língua portuguesa, Fernando Venâncio, chamou-me a atenção para o
que se terá passado na Feira do Livro de Madrid onde Portugal era, este ano, o
país convidado. Li, pois, o artigo do suplemento digital El Cultural, de 19 de junho, da responsabilidade de Martín
López-Vega. Devo dizer que estou de acordo com a sua crítica quando revela a
oportunidade perdida em divulgar a literatura e a poesia portuguesas em Madrid.
Já lá vamos. Não concordo muito, mesmo nada, é com a sua afirmação sobre Valter
Hugo Mãe quando escreve que é um autor português contemporâneo de «una calidad
literaria incuestionable». Não questiono que ele seja um autor, um português ou
mesmo um contemporâneo, mas caramba!, de «calida incuestionable»? Ou, ainda, do
momento «dulce» por que passa a nossa literatura. Bom, afirmações polémicas,
mas adiante. Se assim foi, como Martín López-Vega diz, a presença portuguesa traduziu-se
numa lástima. Reparem: a polémica inicia-se com o falar em português em
mesas-redondas para um público maioritariamente castelhano, apontando o caso de
Eduardo Lourenço. Porque se trata de um pensador, por vezes denso, mas com um
grande conhecimento do «ser português» (seja lá o que isso for!) era necessário
que ele atendesse às sonoridades próprias da língua, às pequenas nuances, irónicas ou não, que um
estrangeiro não tem de perceber. Fui, entretanto, ao site da Feira do Livro de
Madrid e, de facto, a imagem de Portugal sai de lá como Martín López-Vega a
descreveu. Parecia um postal turístico de...Lisboa! Se havia pastéis de nata,
ou água mineral e cerejas do Fundão, nada de mal, mas éramos, ou não, um país
convidado para uma Feira do Livro da capital espanhola? Falar de Saramago ou de
Lobo Antunes é importante, mas constituí um tema batido, tal como o sabor
ressequido de um pastel de nata ao calor tórrido de Madrid. Poderíamos ter
feito mais por dar a conhecer autores, esses sim de qualidade literária
inquestionável e sabedores da querida alma sofrida portuguesa, como Mário de
Carvalho, Mário Cláudio, Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta, Ana Margarida
de Carvalho, José Cardoso Pires, Frederico Lourenço, Vasco Graça Moura, José
Tolentino Mendonça, O´Neill, Sophia de Mello Breyner Andresen, Manuel António
Pina, Ruy Belo, Herberto Helder, Mário Cesariny ou Natália Correia. E tantos,
tantos outros que espero dar vida neste espaço. Quanto aos «contemporâneos» bem
suportados por editoras/promotoras de grandes egos, haverá tempo de os ver
voar. Não sei bem para onde, mas terão destino garantido, certamente.
António Luís Catarino 28/06/2017