sábado, novembro 26, 2011

O Aquário, de João Pedro Mésseder












O Aquário, de João Pedro Mésseder, recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para o 3,º ano, é já um clássico.Uma história de peixes, cores e sabores para os mais pequenos. Um aquário é também um mundo em miniatura, onde se jogam relações entre iguais e diferentes, novos e velhos, e onde se geram preconceitos e ideias feitas. As ilustrações de Gémeo Luís ajudam a compreender situações e personagens, sem deixarem de construir um cenário onírico e sedutor.

Multiplicam-se em as propostas de trabalho em redor deste livro. Deixamos aqui mais uma sugestão, desta feita da autoria do Oceanodaspalavras4.

quarta-feira, novembro 23, 2011

A MOBILIZAÇÃO GLOBAL, de SANTIAGO LOPÉZ-PETIT Tradução de RUI PEREIRA

Nota ao leitor

Esta nota não é um prólogo. O texto que aqui se apresenta, na medida em que propõe um conceito de realidade absoluta — a realidade tornada una com o capitalismo já não tem afora e pretende-se, para além disso, atemporal — não comporta um texto prévio. Ou, se o tivesse, ele não seria mais do que um simples comentário exterior. A nota é, bem mais, uma advertência. A escrita aqui adoptada permite enquadrar os mais diversos fenómenos num discurso unitário e total. Esse discurso é uma ficção, mas toda a ficção produz efeitos de realidade e, se ainda tivesse sentido falar em termos de cientificidade, a operação filosófica e política aqui empreendida reclamaria para si a cientificidade que lhe pode ser conferida pela coerência interna. Em virtude dessa necessidade interna, e uma vez conquistada, à partida, uma legitimidade a partir da qual falar, a realidade apresenta-se na sua processualidade. Queremos acreditar que aquilo que se ganha é suficiente para que a aposta valha a pena. Este texto tem a aspiração de explicar tudo. Decerto, sabemos que no mais essencial existe sempre uma pobreza e um esquematismo que lhe são inerentes. Por essa razão tem tanto de verdade o dizer-se que este texto é um croquis para que nos orientemos na realidade e contra ela. Trata-se de um croquis que outros podem ampliar ou concretizar, ou simplesmente, apagar para inventar outro. Vivamente desejamos que isso aconteça." SANTIAGO LOPÉZ-PETIT

quinta-feira, novembro 17, 2011

A propósito de "Perigo Vegetal", de Ramon Caride

 

Said e Sheila vivem, no ano 2075, no interior da Galiza, mas estão ligados em comunicação ao mundo global do passado. Uma gigantesca companhia transnacional, a C.U.B., tenta apoderar-se de todas as sementes de cereais existentes como parte de um plano para dominar toda a agricultura do planeta. 

A luta das "sementes livres" contra a indústria passou pela horta da Graça Por Alexandra Prado Coelho


Jude e Michel Fanton, dos Seed Savers australianos, surpreenderam-se com a variedade de sementes que encontraram em Portugal. Mas que pode estar em perigo, avisam.
Lembra-se ainda do dia em que comeu a primeira salada de tomate que lhe soube realmente bem. Foi em Portugal, o ano era 1966, e Michel Fanton visitava o país pela primeira vez. Agora, acompanhado por Jude Fanton, regressou. Portugal é um dos países da tournée dos dois Seed Savers, "salvadores de sementes", australianos. E estão encantados com o que viram: "No Algarve mostraram-nos 53 variedades de figos, e vinte e tal de tomates". 
Em Lisboa, o encontro é na Horta do Monte, a horta comunitária da Graça. Às 11h, um grupo de cerca de 30 pessoas, sobretudo jovens, junta-se, abrigando-se debaixo dos chapéus-de-chuva, para ouvir Jude. Quase todos têm conhecimentos básicos de agricultura biológica, mas Jude lança-lhes um desafio: descer pela horta e identificar diferentes tipos de sementes. 
Não é fácil. Primeiro é preciso não escorregar na terra já ensopada, e depois as sementes não são fáceis de encontrar. "Tem que se ter uma flor antes de ter a semente", vai lembrando Jude. "E só se apanham as sementes quando estão maduras", diz enquanto mostra como se retiram as sementes. 
Parece básico, mas encontrar as sementes está a revelar-se uma tarefa mais difícil do que parecia. Assim como distinguir as flores que se podem comer, ou as plantas de folha persistente e de folha caduca. "Os camponeses são muito bons observadores porque a sobrevivência deles depende disso", revela Jude. 
Daí a pouco, o grupo segue para um local mais seco, na Escola Voz do Operário, para aprender a separar as sementes. As da couve-galega, por exemplo, são bolinhas pretas muito pequenas. Jude e Michel aconselham a usar uma folha de papel e deixá-las rolar até caírem dentro do envelope, que será depois fechado e identificado. No final trocam-se sementes, e cada participante leva um envelope. 

Ilegal?

Uma actividade como esta arrisca-se a tornar-se ilegal, explica ao P2 Lanka Horstink, coordenadora da Campanha pelas Sementes Livres, em Portugal. O objectivo de Lanka é o mesmo de Jude e Michel: proteger a biodiversidade, garantir que continua a haver o maior número possível de sementes tradicionais, e que os agricultores possam continuar a trocá-las entre eles. 
Os Seed Savers, conta Michel, já andam nisto há 25 anos, recolhendo e guardando sementes de variedades tradicionais por toda a Austrália; e mantendo-as vivas, replantando-as nas suas hortas e trocando-as entre hortelões. 
Lanka observa a troca de sementes na sala da Voz do Operário enquanto fala: o que preocupa o grupo por detrás da campanha é que a Comissão Europeia esteja a preparar uma "lei das sementes" que, diz a coordenadora, vai tornar ilegais todas as variedades de sementes que não estejam registadas. Ou seja, cada camponês que possua sementes terá que registar cada espécie (pagando pelo registo), sem o que não poderá nem sequer trocá-las com o vizinho do lado. 

Mudanças na legislação

Desde 2008 que a Comissão Europeia tem estado a introduzir mudanças na legislação, prossegue Lanka. Mas aquilo que até agora eram apenas directivas poderá em breve ser lei. A campanha pelas Sementes Livres explica ainda que, para serem registadas, as sementes terão que respeitar uma série de normas ligadas à "homogeneidade e estabilidade" e ao "valor agronómico e de utilização" - requisitos "que as variedades tradicionais dificilmente conseguirão cumprir".
Primeiro porque "não têm uma dimensão de produção" suficiente e, segundo, porque é precisamente "a sua elevada variabilidade" que lhes dá uma capacidade de adaptação às mudanças no solo e no clima. O que significa que várias sementes nas mãos de agricultores podem, de repente, tornar-se ilegais. 
Esta é uma luta entre agricultura biológica e a grande indústria agrícola, que usa pesticidas e fertilizantes, continua a coordenadora da Campanha pelas Sementes Livres. Lanka diz que a legislação que está a ser preparada protege a indústria de sementes (que já detém mais de metade do mercado mundial de sementes comerciais). Se um agricultor não pode guardar sementes, é obrigado a comprar novas, todos os anos. Tudo isto, sublinha, está a contribuir para a redução drástica da biodiversidade (de vários milhares de variedades para uma dúzia de espécies de plantas que são consumidas actualmente). 
Dentro do quadro europeu, os portugueses são dos que mais conseguiram preservar variedades de sementes tradicionais. Por isso, diz Lanka, Portugal "ainda goza de um património vegetal genético invejável" comparado com outros países europeus. O importante é não o perder, apela.
(Público, 17.11.11)

sexta-feira, novembro 11, 2011

Esquisita crise, Gustavo Rubim


  • Crítica Ípsilon por:

    Gustavo Rubim




  • Crise de Versos
  • Autoria: Stéphane Mallarmé


Crise” também significa (em Grego) resultado ou desenlace e, assim, o que sai de uma crise de verso é outro verso. Soa esquisito, mas “exquise” é a palavra francesa que qualifica a “crise” como preciosa



Livros pequenos, poucos exemplares, circulação discreta, às vezes até despercebida: não é essa, hoje, a situação de quase toda a poesia?

Aqueles para quem a poesia não seja, simplesmente, uma coisa do passado ou uma irrelevante inexistência, terão a tentação de falar em “crise”, mas ninguém dará a isso grande importância. Perante outras crises, ubíquas, assustadoras, uma “crise de versos” pesa pouco, quase nada. Nem era disso, aliás, que falava Stéphane Mallarmé quando em 1897 publicou, no volume “Divagações”, esta “Crise de Versos” escrita em prosa fragmentada. Um dos textos mais lentos que alguma vez se escreveu: dez anos para compor (em boa parte, com passagens doutros escritos) as catorze pequenas páginas aqui duplicadas pela decisão de acompanhar a tradução com o texto original.
Não diminui, aumenta com isso a importância do trabalho de Rosa Maria Martelo e de Pedro Eiras, os tradutores. O Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, do Porto, em que ambos trabalham e que dirige a colecção Pulsar (de que este nº 5 é o ponto alto), mostra como também no âmbito literário vale a lição de Mies van der Rohe: “Menos é mais.” Que é aqui uma lição de leitura, pois levar este livrinho para casa e decidir-se a lê-lo é apostar em tudo menos no consumo rápido: a prosa de Mallarmé, nisso indistinta da poesia, é para ler mesmo devagar, saboreando a deliciosa dificuldade dos “seus sobressaltos e inversões”, verificando como uma crise de versos é afinal “crise também da prosa - que se expõe e se assume”, conforme ensinam os co-autores deste genuíno acontecimento nas nossas letras.
Mas crise, em Mallarmé, é praticamente uma palavra feliz. Ela designa, como sempre desde o Grego antigo, o instante decisivo, a separação, o próprio acto de escolher. Num dos parágrafos finais do texto, Mallarmé descreve um desejo moderno da poesia que é, precisamente, um desejo crítico: “Um inegável desejo do meu tempo é separar, para destinos diferentes, o duplo estado da palavra, ora bruto ou imediato, ora essencial.” Esse desejo, que instala ou abre uma crise, uma divisão na linguagem, não é por isso menos afirmativo nem menos capaz de fundar a convicção da poesia. Isto é, em plena crise, a confiança no poder do verso: “O verso, que de vários vocábulos refaz uma palavra total, nova, estrangeira à língua e como que encantatória, completa esse isolamento da palavra (...)”.
Não será fácil hoje aceitar esta celebração do isolamento da palavra pelo verso, a não ser, como já várias vezes sucedeu, trocando o entendimento por ressentimento e acusando Mallarmé (e outros) de isolar a poesia, de a mergulhar no ininteligível, de a afastar da fruição universal, etc. Mas não se faz essa troca sem sacrificar a poesia àquilo a que Mallarmé chama “a universal reportagem”, o que vem a dar no mesmo que liquidá-la. Boa parte da grandeza inegável de Mallarmé, à distância de um século, é ter percebido que para a poesia moderna tudo se joga crucialmente na relação com a linguagem, porque “moderno” é o mundo onde todo o poder se traduz em forma e força de discurso.
Daí que a sua “Crise de Versos” seja a crise, ínfima, mas “preciosa, fundamental”, como se lê no início, da relação da poesia com o seu traço mais tradicional e constitutivo: o verso mesmo, claro. É uma nova liberdade do verso que Mallarmé anota e intensifica, traçando o seu acontecimento local (em França, após a morte de Victor Hugo) e limitado, como se o verso se rompesse sem rotura: “sei que se explora mais um jogo, sedutor, com os fragmentos do antigo verso (...) do que qualquer súbito achado, completamente inédito.” O verso livre, nesse sentido, é ainda um resultado do verso disciplinado, que nunca desaparece deste cenário crítico. Colhe-se aí a singularidade do pensamento de Mallarmé: “crise” também significa (em Grego) resultado ou desenlace e, assim, o que sai de uma crise de verso é outro verso. Soa um pouco esquisito, mas “exquise” é exactamente a palavra francesa que qualifica a “crise” como preciosa. E talvez a poesia não seja outra coisa senão o domínio em que só o esquisito é fundamental. (daqui)

OUTROS LIVROS DA COLEÇÃO: 

quinta-feira, novembro 03, 2011

O Homem que Via Passar as Estrelas, de Luís Mourão (texto), Sandie Mourão (figurinos/ilustração)



A propósito do lançamento  de O Homem que Via Passar as Estrelas, um texto de teatro para a infância e juventude de Luís Mourão (texto), Sandie Mourão (figurinos/ilustração); manual de exploração pedagógica  de Paulo Simões e prefácio de Máximo Ferreira recuperámos um artigo de  Ana Paula Couceiro Figueira  publicado  originalmente na revista Psychologica e posteriormente aqui.

O Palco da Vida: A expressão dramática enquanto instrumento operatório do desenvolvimento das competências sociais  | Ana Paula Couceiro Figueira

    [...] Ajudar os alunos a serem sujeitos independentes/autónomos, criativos, expressivos, auto-afirmativos, assertivos, desinibidos, comunicativos, capazes de tomar decisões, a saberem resolver problemas, em suma, a serem auto-regulados e autocontrolados, deverá ser a maior prioridade educacional, hoje.
    Julgamos que todos os membros da equipa educativa deverão envidar esforços no sentido de, simultaneamente à preocupação sobre os conteúdos estritamente escolares, formais, e dos meios que facilitam a sua aquisição, enquadrar nos seus programas, projectos ou acções, temáticas relacionadas com as condições que propiciam a aprendizagem (motivação, controlo das emoções e estados de humor, percepção de competência e de capacidade, expectativas, aspirações, atitude positiva face à escola, estabelecimento de objectivos de aprendizagem, percepção da instrumentalidade dos conteúdos, métodos e condições de estudo, aptidões sociais, …). No mesmo sentido, consideramos que, igualmente, uma forma possível de poder realizar este princípio, poderia ser ou existir, não a título facultativo, mas com cariz curricular , a disciplina de Expressão Dramática, desde a Educação de Infância ao Ensino Superior.    [...]
 A Expressão Dramática entendida, não na sua vertente terapêutica (ex. Psicodrama), de remediação ou recuperação, nem como mera estratégia para veicular mensagens formais, antes, no seu vector preventivo/profiláctico, como instrumento de aprendizagem e de desenvolvimento, propiciador de experiências relacionais/sociais.
Em rigor, a Expressão Dramática    [...]  parece cumprir, julgamos, os objectivos de desenvolvimento social. [...] De facto, a Expressão Dramática, tendo em consideração os aspectos afectivo/sociais, cognitivo/linguísticos e psicomotores de desenvolvimento, perspectiva-se como um instrumento de actualização e potenciação das aptidões sociais. Tendo em conta, igualmente, comportamentos verbais e não verbais, encerra os componentes fundamentais das competências sociais. É uma prática que põe em acção a totalidade da pessoa, favorecendo, através de actividades lúdicas, o desenvolvimento e uma aprendizagem global (cognitiva, afectiva, sensorial, motora, estética). Neste sentido, ela partilha das intenções da finalidade geral da educação que é o desenvolvimento global da personalidade (Landier & Barret, 1994).
    Consideramos que todas as outras disciplinas curriculares podem potenciar ou fomentar as capacidades sociais dos indivíduos. Todavia, para além de serem esses os seus objectivos mais específicos e prioritários, são os professores de Expressão Dramática aqueles que, por “não terem preocupações de conteúdos estritos escolares”, estão em melhor posição, teoricamente, têm mais disponibilidade para o desenvolvimento holístico do indivíduo. [...]


É que,
A expressividade da pessoa humana implica o corpo como
condição da tradução dessa expressividade; implica o
enquadramento ambiental como possibilidade de diálogo
existencial na personalidade estruturada e amadurecida e
na personalidade em estruturação e amadurecimento
progressivo (…)
Miranda Santos, 1972, pp. 314-315.
e
É tão importante o contributo do corpo para as expressões
humanas que se poderia falar duma colaboração
indispensável do mesmo para essas expressões ou até
duma “intencionalidade corporal”.
Miranda Santos, 1972, p. 317.



  LER NA ÍNTEGRA AQUI.