Aparentemente nada há de comum entre A Estrada e o livro de Bryan Ward-Perkins que li de uma só vez quando foi editado pela Aletheia. Trata-se de A Queda de Roma e em ambas as situações me vi confrontado com a queda de mundos que se julgavam sólidos e, portanto, inabaláveis. Ambos são verosímeis no seu horror. Em A Queda de Roma, Ward-Perkins, professor em Oxford, avança com a teoria até agora polémica mas documentalmente forte, da rápida queda do Império sem que economica, política e militarmente houvesse uma resposta efectiva e válida ao estertor de um sistema quase perfeito. Parece que restaram 30 anos para que tudo se revolvesse e entrasse em colapso. Não houve recuperação, como todos sabemos. Em A Estrada confrontamo-nos com algo muito batido e rebatido em Holywood, mas a estrutura literária dá ao filme uma verosimilhança que nos atinge como balas. Como as duas que a personagem adulta guarda religiosamente para o seu suicídio e o do filho que procuram a saída de uma sociedade que se julgava indestrutível. Não interessa como caíu. Pouco importa. O que interessa é a sobrevivência pura e dura e a entrega do fogo. Aquele que Roma deixou apagar, sem saber depois a técnica de o reacender.