Tony Judt perpassa todo o século XX de um modo literalmente arrasador. O pior século de que há memória em termos de mortes e catástrofes humanas. Aceita Albert Camus e Hanna Arendt como filósofos honestos (embora ostracizados) e que viram onde estava o gérmen do terror e do mal. Bate em Sartre e Beauvoir e, cá para nós, muito bem. Defende (exageradamente?) Arthur Koestler e Manés Sperber. Desdenha de Althusser. Aponta, displicente, Antoine Compagnon. Condescende com Eric Hobsbawm (ainda bem) e Edward Said. Explica-nos melhor o suicídio de Primo Levi. Ataca Israel de hoje (ele que esteve na fundação de um Kibutz, logo em 1948) e é feroz para com Reagan e Tatcher. Ridiculariza Blair e a Terceira Via (terá Sócrates lido este livro?), assim como o socialismo que renega o papel regulador do Estado. No entanto, é liberal e aqui o problema torna-se insolúvel. Perante a negação de Marx, pelo menos o de um certo Marx, as alternativas que apresenta sossobram ainda. Não basta um estado regulador e interventivo à boa maneira do New Deal. Para esse peditório já demos nos anos 30. Hoje a humanidade defronta-se com problemas mais sérios e Tony Judt deixa tudo em aberto. Mais do que interpretar, podia, ao menos, ter a vontade de transformar... mas isso é marxista. De qualquer maneira, O Século XX Esquecido - Lugares e Memórias, é um livro indispensável para quem quiser lê-lo abertamente, sem preconceitos. Quem o publica é as Edições 70 e a tradução é de Marcelo Felix.