quarta-feira, julho 30, 2025

"O Sentido do Fim", Julian Barnes

Quetzal, 2011. Tradução de Helena Cardoso
Este é dos tais livros que me convidavam a lê-lo desde há muito, não sei ainda hoje porquê. Uma extrema desilusão. Barnes sabe do negócio da literatura levezinha, pós-moderna, caduca desde que apareceu nos anos 80 e que não saiu desse registo. Se vende bem é para continuar. A fórmula, tão eficaz, quanto desonesta aí está: uma grupo de amigos em Cambridge que mantêm contacto. Desses quatro, um suicida-se quando estava com uma ex-namorada da personagem principal, um tal Tony. O suicidado era Adrian. A culpa, porque há sempre culpados, ou a percepção da culpa, vá-se lá saber, foi dessa namorada meia louca. Mas veio a lembrar-se de uma carta tramada que lhes mandou a vingar-se da traição. Depois, é a descrição dos pais de cada um deles, quase todos alcoólicos. Sexo, cancros a esmo, drogas que prescreveram, aproximação da morte, sem que a finitude seja de facto uma constante do livro. Solidão, expulsões, indiferenças, filosofias baratas daquelas que não cansam muito a cabeça e Cambridge lá tão longe... A reforma vazia de sentido, uma olhadela ao tempo que se esvai numa biblioteca pública, para o solitário se entreter porque a vida é mesmo assim. Um tédio igual ao do livro.

Julian Barnes é, contudo um vencedor de prémios. Ganhou tudo (menos o Nobel, mas ainda vai a tempo) e casou-se com uma agente literária que lhe vai informando, certezinha, qual o gosto do público hodierno (o Saramago também casado com uma agente literária, nada tem a ver com isto, entenda-se. A comparação morre aqui!). Também a Quetzal sabe da poda. E o «crítico» José Mário Silva idem, idem, aspas, aspas, que diz da sua escrita, na própria capa do livro, que «raia o sublime». O sublime foi o aviso do sentido do fim: não me parece voltar a ler Barnes. Fim.

alc