quarta-feira, julho 23, 2025

"Khadji-Murat", Lev Tolstoi

 

Cavalo de Ferro, 2014. Tradução de Olga Solovova 
«Khadji-Murat» chega-nos do Cáucaso onde Tolstói esteve quatro anos a cumprir serviço militar como junker, após ter desistido da vida «dissoluta», como gostam de afirmar os seus biógrafos, que mantinha em Moscovo. É evidente que não vou classificar esta novela, porque seria de uma arrogância extraordinária tentar falar de Tolstói literariamente. É, tão-só, um dos maiores da literatura que escreve sobre um povo e com ele, um dos chefes carismáticos que se vê enredado em valores familiares e tribais que irão chocar com os motivos independentistas que o fazem lutar pela liberdade face aos russos. Ou, talvez, pelo que entende ser a liberdade e continuidade dos seus costumes ancestrais de um povo guerreiro da montanha. Tolstói, como génio que é, não se compraz em dar a sua «opinião» sobre o que vê, sente ou observa com atenção peculiar. Simplesmente, descreve o comportamento altivo de um homem que aparentemente trai um outro chefe que lutava contra os ocupantes e se passa para o outro lado - o dos russos. Isto é o que vemos, objectivamente. Mas, para lá, desta história, há uma outra e outra e outra. Tal como sucessivas camadas vemos que Murat é fruto de de uma situação que não tem saída e, como se comprova no final que escuso de desvendar aqui, nem a Rússia constitui qualquer liberdade, nem qualquer dos chefes tribais da Tchetchénia consentem que tenha acesso à sua e à dos seus. A Rússia oitocentista estava longe de o entender, mesmo que o tenha usado. O mundo de Hadji-Murat soçobra com ele, mantendo a sua altivez e orgulho intactas.

alc