terça-feira, outubro 17, 2023

«O Morcego», Jo Nesbo

 

BIS, Livro de Bolso, 2ª ed. 2019. Trad. (inglês) Maria Georgina Segurado
Primeiro livro da série do inspector norueguês Harry Hole é claramente uma aposta sofrível. Os acontecimentos não fluem, são colocados a camartelo para dar algum aspecto de verosimilhança, mas falha completamente. Um polícia que vem da Noruega à Austrália para se inteirar de um assassínio de uma rapariga norueguesa em Sidney, vítima de um assassino em série, dão-lhe uma arma que usa à fartazana, anda à porrada em bares, bebe que se farta, estampa carros, utiliza prostitutas para ter acesso a informações e pior que tudo, envia para a morte certa a sua namorada sueca, por quem diz ter-se apaixonado loucamente, para os braços do assassino que a mata sem rebuço, usando-a como isco! Isto sem haver inquéritos, expulsões da polícia, ou sequer uma advertenciazinha. Ou a polícia australiana anda a dedicar o seu tempo ao surf ou estamos perante uma piada ao país, repetida vezes sem conta no livro para com os australianos, pouco focados nas lides policiais. As drogas aparecem em todo o lado, tal como a prostituição generalizada nas ruas, tal como os hippies tardios, os gays são em maior número do que em S. Francisco o que o leva a declarar à namorada, ainda viva na ocasião, que se sente mal ao reparar que são o único par heterossexual na King's Cross de Sidney, tal como os aborígenes que são gente dada a crimes, pobreza, alcoolismo (ele que é alcoólico!), prostituição e disfuncionalidade familiar. Todavia, dados aos mais profundos segredos da Natureza.

E por falar em aborígenes, claro que o assassino em série será um deles. Só massacra e viola (por vezes a ordem inverte-se) mulheres louras sem filhos (requinte de malvadez) para que não possam procriar mais tarde e, assim mesmo, se vinga da forma como os brancos humilharam, maltrataram e torturaram o povo que vivia há 60 mil anos na Austrália. Mesmo que os estudos revelem que os assassinos em série são geralmente homens brancos, alguns com família constituída e perfeitamente integrados socialmente. Mas, para o livro de Nesbo, essa vingança sociopata só poderia vir de um aborígene que morre no aquário de Sidney engolido por um tubarão!! Claro que Harry Hole, antes, tenta matá-lo a tiro, por entre as pessoas que, com os filhos, visitavam calmamente o aquário e que tiveram como bónus ao bilhete adquirido, um tipo a ser comido aos safanões por um tubarão branco. Já antes, em capítulos anteriores, um palhaço tinha sido decapitado por uma guilhotina, expelindo rios de «sangue e medula» (sic), perante o entusiasmo da criançada! Se me contassem que isto era descrito num livro não acreditaria à primeira...

Mas as coisas estão assim: enquanto me dedico à História, principalmente de autores contemporâneos que obviamente não conheci na Faculdade e na leitura de autores malditos do século XX, tive necessidade de intervalar com alguns livros policiais que sempre gostei de ler, aliás. Não os conhecendo como deveria, levei este Nesbo, apodado, na capa do livro de bolso, de «autor nórdico do momento, best seller internacional» e que me custou 9,95 euros. Que fiquem pois com o seller que como best, estamos conversados. Grande banhada nórdica!