domingo, junho 04, 2023

«Petite Prose», Robert Walser


Éditions Zoé, 2009. Trad. do alemão para francês de Marion Graf
«Petite Prose», publicado em 1917, corresponde ao período em que Robert Walser vivia em Bienne e é considerado um dos livros mais importantes e característicos da sua obra. São vinte e um textos maravilhosos, de uma finíssima ironia, em que alterna a autobiografia e a ficção. As personagens, muitas vezes, são mesmo reais (Luisa Schweizer «Louise», Rosa Schätzle «Rosa», Franz Blei, e outros) mas colocando-as em situações fictícias, desenvolvndo uma narrativa atravessada por uma ironia por vezes cáustica, outra vezes de uma tristeza ou euforia invulgares. Quanto mais se conhece Robert Walser, mais se quer saber. Quanto a este livro ele é publicado tinha Walser já 40 anos e as personagens que ele criou nas suas pequenas narrativas eram ainda vivas. Há quem explique esta «demora» em publicar, mas o escritor era completamente alheio, ou mesmo adverso, a qualquer carreira literária. Parece que o seu irmão mais velho, pintor de renome, Karl Walser, terá sido o responsável por o apresentar a editores suíços, já que a guerra o tinha impedido de viver em Berlim onde já escrevia para alguns jornais e editado pequenos poemas. Contudo, creio que não se pode ver os trabalhos de Walser à luz de um trajecto normal de um escritor. Foi internado durante perto de 20 anos no hospício de Herisau e nessa ocasião não publicou absolutamente nada, dedicando-se a escrever, a lápis, autênticos quebra-cabeças em pequenos textos que levaram anos a decifrar. Pouco importa para o caso. A escrita de Robert Walser é luminosa e o que nos deixou basta para sabermos de que é feita a sua poesia, tenha ela o formato que tiver.

«Basta

Je suis né à telle et telle date, j'ai grandi `tel et tel endroit, j'ai fréquenté l'école comme il se doit, je suis ceci et cela et m'appelle tel et tel, et je ne réfléchis pas beacoup. Rapport au sexe je suis un homme, rapport à l'État, je suis un bon citoyen et pour ce qui est du rang, j'appartiens à la bonne société. Je suis un membre propret, tranquille et sympathique de la société humaine, ce qu'on appelle un bon citoyen, j'aime boire ma bière avec raison et je ne pense pas beaucoup. Évidemment, j'aime surtout bien manger, et tout aussi évidemment, je suis loin d'avoir des idées. Loin de moi toute réflexion pointue; loin de moi d'avoir des idées, et c'est pour cela que je suis un bon citoyen, car un bon citoyen ne réfléchit pas beaucoup. Un bon citoyen mange sa soupe, et basta! (...)» (págs. 65/66).