quarta-feira, dezembro 30, 2020
«Fósforos e Metal sobre Imitação de Ser Humano», de Filipa Leal
«Acidentes», de Hélia Correia
Não é a primeira vez que Hélia Correia me coloca na situação de espanto perante as suas palavras: aconteceu com «Adoecer» e agora com «Acidentes», embora em registos diferentes. Tenho acompanhado os seus livros desde sempre e também por causa da Grécia, bem presente neste último livro de poesia. Soube, pelo livro, que o poema dedicado a Maria Helena da Rocha Pereira, que foi minha professora de Cultura Clássica durante dois anos na FLUC, já teria sido publicado no JL. Constituiu uma surpresa comovedora incluir este longo poema num ciclo helénico, diria eu, dedicado a Safo e a Cleïs.
António Luís Catarino
30 de Dezembro de 2020.
sexta-feira, dezembro 25, 2020
Natal de poesia feito 2
Por vezes dá-me a febre da poesia. É por ondas. Por impulsos. Na verdade, a poesia também ela é impulso e perseverança. Encontrar a palavra, a ideia certa, é quase doloroso. As palavras quando juntas pelos poetas adquirem uma lógica que por vezes não encontramos cá fora, não sabemos como dizer e lá está ela sob os nosso olhar. Que entra em nós e permanece, num caminho permanente.
quarta-feira, dezembro 23, 2020
Natal de poesia feito
No Natal há demasiados ruídos, solicitações, companhias que dificultam muito a concentração que é obrigatória na leitura. Um poema. Um simples poema pode ajudar-nos a centrar a beleza inerente à palavra e à sua conjunção. Como os planetas em linha que permitem ver o brilho de uma estrela longínqua. É nisto que me refugio durante o Natal.
António Luís Catarino
23 de Dezembro de 2020.
terça-feira, dezembro 22, 2020
«A Ladra da Fruta», de Peter Handke
Já me tem acontecido na leitura de um livro, mas as primeiras palavras desta ficha de leitura vão, directas, para o trabalho de Helena Topa nesta tradução de «A Ladra da Fruta», de Peter Handke. É um trabalho excepcional e não queria (nem poderia) estar na sua pele a traduzir do alemão palavras, expressões, referências literárias inesperadas mas ganhando todo o sentido ao serem explicadas no final do livro por Helena Topa. Palavras e frases que o próprio Handke afirma, no decorrer da história, serem intraduzíveis alternando com expressões em alemão (a certa altura até faz um elogio à sua língua que, cá por mim, até corroboraria se não fossem as palavras de 23 letras!), francês e espanhol. Nada que não se esperasse de um livro da Relógio d'Água, mas este trabalho de tradução é mesmo de registar.
Quanto ao livro em si, lê-se de um fôlego. Não tendo capítulos ou espaços em branco para respirarmos, a cadência que nos transmite faz a leitura discorrer sem grandes problemas de fadiga. O facto estará, creio, no acompanhamento que queremos fazer com Alexia, mais tarde também com Valter, cuja viagem em espiral dura três dias. O motivo aparente, se é que é necessário um motivo, é uma caminhada pelas estradas, bosques, rios, na Picardia francesa em busca da mãe e de um irmão que não vê há muito. Alexia é siberiana e viaja em diversas situações quase surrealistas se não tivéssemos a certeza que a realidade ultrapassa em muito a ficção, tornando a deriva de Alexia verosímil.
Utilizei o termo «deriva» porque é mesmo o que acontece nesta viagem. Se isto não é uma deriva, então o que é a busca de Alexia? Se atentarmos em Thomas de Quincey que afirmava em «Confissões de um Opiómano inglês» que Londres era uma cidade onde existiam quadrículas desconhecidas ou mapas não registados oficialmente pela polícia, onde se errava em liberdade e perigosamente, então temos uma Alexia em deriva constante. Se quisermos até chamar a psicogeografia, teremos igualmente uma Alexia em busca permanente de uma identidade e de um lugar onde se identifique com ela própria. Por isso move-se em espiral, como nos informa Handke. Porque se encontra com lugares, pessoas e animais que lhe dizem quem é, mas que ela abandona de seguida - em espiral, para nunca se repetir o encontro, tal como a História, em Mircea Eliade. Esta nunca se repete se bem que os lugares-comuns, muitos deles assinalados pelo autor na obra, o repitam até ao enjoo. Não, a História não se repete. Toca-se em espiral, num movimento helicoidal, como as molas dos nossos automóveis.
E, se para esta obra excepcional, fosse necessário mostrar um epílogo, de tantos que tem, visto que a deriva de Alexia, tal como qualquer deriva, não tem fim, eu escolheria este discurso do pai:« «Nós, os que não temos Estado, aqui e hoje livres do Estado, inatingíveis pelo Estado. Tudo se converteu em seitas, Estados e Igrejas e...e...E nós? Fugitivos do tempo, heróis da fuga. Nós, que não temos um papel, enquanto os homens do Estado continuam, imperturbáveis, nos seus papéis. Nós, os eternos destemidos cheios de temor. Os eternos hesitantes e procrastinadores. Os que escolhemos os desvios. Os que andamos em círculos e espirais. Os-que-olhamos-por-cima-do-ombro para o vazio. Os herdeiros da culpa. Os amantes do amargo. Nós, os prestáveis, dinastia de serviçais, nobreza hereditária de obsequiosos. Nós, os rotos, marquesas e condes hereditários ''von Roto''. Nós, as figuras marginais! (Exclamação: «Viva o roto! Vivam as figuras marginais!») «Nós, os ilegais e os desesperados. Que temos, contudo, uma lei. Nós, os lutadores de causas perdidas.» (Exclamação: «Vida longa aos que lutam por causas perdidas!»).»»
Sois dados a serem prestáveis, pertencerem a uma dinastia de serviçais ou, ainda, eternos obsequiosos? Então não leiam este livro. Mas sereis agradavelmente surpreendidos se forem permanentes lutadores de causas perdidas.
António Luís Catarino.
22 de Dezembro de 2020
quinta-feira, dezembro 10, 2020
A ignorância ao serviço do nazismo
Lenine e Nós, de Boaventura de Sousa Santos
O artigo de Boaventura de Sousa Santos é este:
António Luís Catarino
7 de Dezembro de 2020
terça-feira, dezembro 01, 2020
Últimos exemplares de «Anjos do Desespero»
Últimos exemplares de «Anjos do Desespero».
Aproximamo-nos do final da promoção do livro/catálogo Anjos
do Desespero baseado na exposição homónima que teve lugar em Coimbra, no
Liquidâmbar. Referências poéticas e personagens que vos mostro juntamente com o
prazer do desenho, da colagem e da recolha. Foi uma edição de autor, com a
chancela da Artes Breves e composta por António Alves Martins. Tiragem pequena,
permito-me informar que já existem poucos livros para venda restrita e
simbólica de 12 euros. Um abraço de obrigado a quem já adquiriu o livro, todos
autografados. Um agradecimento aos espaços que aceitaram expô-lo:
Letra Livre em Lisboa, Utopia no Porto, Miguel de Carvalho na Figueira da Foz e
Liquidâmbar em Coimbra. Uma grande cumplicidade aos que leram os textos na exposição e presentes no livro. E um obrigado igualmente aos que o vão ainda adquirir, neste fim
de ciclo a que me propus. O contacto aqui vai, e a tempo, por causa do tempo: alcatarino3@gmail.com
António Luís Catarino
1 de Dezembro de 2020