Um livrinho recebido, uma alegria acrescentada. De José
Ricardo Nunes, tenho dado conta que o poeta se rejuvenesce cada vez que se
edita. Agora na editora Volta d’Mar (voltademar@gmail.com) deduzo que em
pequena tiragem. Quem o quer, peça-o à editora, porque a poesia esmifra-se nas
estantes das grandes cadeias livreiras.
A anotação do tempo sempre presente na poesia de José
Ricardo. 2018-19, como se a voragem dos dias consumisse as folhas grafadas. «Si
Dispensa dai Fiori» divide-se em quatro partes: «Gesualdo», «Caravaggio», «Si
Dispensa dai Fiori» que dá o título ao livro e «Ainda a Propósito da
Ressurreição». Continua-se na ideia de tempo: «(...) e depois/ que patetice/
tornava a pensar na ressurreição/ com muita intensidade // o tempo descoordena
as imagens/ favorece os erros ortográficos/ mas o adicionalzinho sempre/ dava
jeito talvez até/ pudesse reparar umas torneiras/ (...)». Em «Si dispensa dai
Fiori» com a sonoridade e o ritmo de um soneto envolve-se, José Ricardo, no
platonismo das ideias e do epicurismo dos átomos e das células para desaguar em
personagens bíblicas ou lugares renascentistas em busca das caveiras de Santa
Maria delle Anime del Purgatorio ad Arco, como em S. Jeronimo que anota o
tempo. «(...) lembra-se a alma por mim/ dos que deveras me amaram/ e dos que me
foram queridos/ dos que apenas por obrigação/ irão ajudá-la a subir/ quando for
o momento/ e nem então houver remédio// si dispensa dai fiori/ il presente vale
anche per rigraziamento».
António Luís Catarino
Coimbra, 13 de abril de 2020