segunda-feira, abril 13, 2020

Si Dispensa dai Fiori, de José Ricardo Nunes

volta d' mar

Um livrinho recebido, uma alegria acrescentada. De José Ricardo Nunes, tenho dado conta que o poeta se rejuvenesce cada vez que se edita. Agora na editora Volta d’Mar (voltademar@gmail.com) deduzo que em pequena tiragem. Quem o quer, peça-o à editora, porque a poesia esmifra-se nas estantes das grandes cadeias livreiras.

A anotação do tempo sempre presente na poesia de José Ricardo. 2018-19, como se a voragem dos dias consumisse as folhas grafadas. «Si Dispensa dai Fiori» divide-se em quatro partes: «Gesualdo», «Caravaggio», «Si Dispensa dai Fiori» que dá o título ao livro e «Ainda a Propósito da Ressurreição». Continua-se na ideia de tempo: «(...) e depois/ que patetice/ tornava a pensar na ressurreição/ com muita intensidade // o tempo descoordena as imagens/ favorece os erros ortográficos/ mas o adicionalzinho sempre/ dava jeito talvez até/ pudesse reparar umas torneiras/ (...)». Em «Si dispensa dai Fiori» com a sonoridade e o ritmo de um soneto envolve-se, José Ricardo, no platonismo das ideias e do epicurismo dos átomos e das células para desaguar em personagens bíblicas ou lugares renascentistas em busca das caveiras de Santa Maria delle Anime del Purgatorio ad Arco, como em S. Jeronimo que anota o tempo. «(...) lembra-se a alma por mim/ dos que deveras me amaram/ e dos que me foram queridos/ dos que apenas por obrigação/ irão ajudá-la a subir/ quando for o momento/ e nem então houver remédio// si dispensa dai fiori/ il presente vale anche per rigraziamento».

António Luís Catarino
Coimbra, 13 de abril de 2020