terça-feira, novembro 19, 2013

Crónicas Peugeot. O que são? Que história por detrás do livro?

No início dos anos 80, o sociólogo Michel Pialoux conheceu Christian Corouge, operário e sindicalista nas fábricas Peugeot, em Sochaux (França). Ao longo de largos anos, eles mantiveram um diálogo sobre os pequenos nadas que preenchem o quotidiano do trabalho fabril, a entreajuda, galhofa e convívio entre colegas de trabalho, as resistências e increpações perante as tentativas de controlo patronal. A partir da história singular de um operário, o que, por si só, vem pôr em causa as concepções que tendem a anular a subjectividade dos próprios trabalhadores, são trazidos para o primeiro plano todos os aspectos que fazem do trabalho o que ele realmente é, sejam as vicissitudes que representa organizar uma manifestação sindical a exigir uma melhoria das condições de trabalho, seja o suicídio de um colega que não pôde mais suportar as humilhações da gerência, seja ainda o orgulho sentido em preservar intransigentemente a dignidade pessoal contra todas e quaisquer intrusões e pressões.

«Aqui estão “lançadas sobre o papel as palavras da língua falada”, palavras simples, por vezes brutais e frequentemente cómicas: as palavras de Christian Corouge, operário da fábrica Peugeot de Sochaux e delegado sindical, trocadas com o sociólogo Michel Pialoux por ocasião de entrevistas gravadas entre 1983 e 1986. Corouge analisa os métodos Peugeot de gestão da mão-de-obra, as técnicas de repressão dos militantes bem como as técnicas de resistência, a convivialidade entre operários, indissociável do sucesso de uma greve. Resistir no local de trabalho é também ultrapassar o horizonte estreito que ele poderia impor ao formular um questionamento político sobre a representação dos operários e a delegação do poder, sobre as relações com os intelectuais e com a cultura, sobre o lugar das mulheres e dos imigrantes.»
Célestin Saldana, «Compte rendu», Le Monde Diplomatique, Dezembro de 2011.

«Christian Corouge, operário da Peugeot, dialogando com o sociólogo Michel Pialoux, traz um olhar singular sobre as desilusões da causa operário no último terço de século. Um caso exemplar de produção intelectual partilhada entre um artesão do intelecto e um pensador da actividade operária. (…) Estando para lá do simples testemunho pela sua reflexividade, a pesquisa comporta um interferência original, explícita e cultivada, entre aspirações sociais e ciências sociais. Desde quando foi realizada, ela contribuiu para a renovação na etnologia e na sociologia das investigações sobre a sociedade francesa, e daquilo que podemos designar por movimento etnográfico francês.»


Nicolas Hatzfeld, «Da la chaine à la plume», La Vie des Idées, 5 de Setembro de 2011.