Não sei se, hoje, Portugal não simpatizaria com uma solução parecida com a de Marine Le Pen que entretanto atinge já os 24% de votos em França. Não digo isto para provocar o que quer que seja. Não tenho grande vontade de provocar alguém, muito menos essa entidade cada vez mais abstracta que é o «povo».
Digo-o porque me incomoda verdadeiramente a extrema-direita e tudo o que ela representa como o regresso a valores que julgava já ultrapassados: a submissão da mulher, a estupidez do racismo, as hierarquias infalíveis, a força como finalidade última da acção humana, o preconceito e a homofobia, a eliminação dos fracos, o ódio à paz e à cultura, a valorização da guerra. Basta isto para me pôr a penantes para resistir. Com qualquer forma de resistência, diga-se. E sei de muita gente que o fará com alegria, até. O que me incomoda verdadeiramente (repito) é a aliança que o fascismo actual faz com a tecnologia e o capitalismo banqueiro e de tipo «asiático». Isto sim, faz um caldo que pode levar a vitórias eleitorais com o símbolo último da austeridade como argumento fundador.
Entretanto, sairei hoje para ir ver Hanna Arendt. E pensar que Eichman era um tipo vulgar. É essa vulgaridade que cria os piores monstros. A apatia do povo português assusta-me tanto como ele.