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Hugo Neto com o Sado ao fundo. 2013 |
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Vista
sobre a cidade
durante
as obras de restauro da igreja
Subo
à torre da igreja para ver a vista com as gárgulas,
sobre
Lisboa.
Adolescente,
várias vezes me fascinou a imagem de uma vaga
que
afogasse outra vez este país.
Via
corpos anónimos e destroços levados na corrente,
e
enchia-se o espírito de um alívio amoral,
como
se aquilo fosse o mar da pacificação.
Mas escolher a raiva contra o mundo seria a derrota,
seria alimentar-se do ódio até ao fim.
Deixa-se depois de culpar o exterior. Acata-se a evidência:
jamais confiar ao mundo a paz que nos couber.
Mas
o adulto conservará o direito à amoralidade
na
ferida íntima; sempre capaz da intolerância. Capaz de fugir
ou
de morder a mão que lhe ensombra a comida,
ou
de morder a mão que dá a comida, capaz de odiar
e por um rasgo obscuro, por vingança, merecimento de paz,
vislumbrar
a morte a quem lhe é querido.
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Num milhão de anos pouco restará da cidade de Lisboa.
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De, Segmento, Deriva 2013 a editar no sábado às 19 horas. Bar Primeiro Andar, Rua da Porta de Santo Antão, 110, 1º andar, Lisboa