«Suicidas»! Que livro é este, Henrique? Como te surgiu a
ideia de o escreveres?
É um livro de poemas em prosa, na linha do “Estranhas
Criaturas” (Deriva, Junho 2010) e do “Estórias Domésticas” (Ovni, 2006). É
nesse território que me sinto melhor, embora desde cedo tenha sentido uma forte
ambivalência entre a prosa e o verso. A ideia de escrever um livro cujos textos
tivessem como “figuras tutelares” escritores que se suicidaram persegue-me há
muito. Julgo que me surgiu, pela primeira vez, em 2003, depois de ter lido um
texto de Antonin Artaud intitulado “Van Gogh – O Suicidado da Sociedade”.
Organizá-lo agora tem que ver, julgo, com o ambiente social que estamos a
viver. Por vezes, sinto que este livro é um manifesto contra todos quantos
defendem não haver espaço para estados de alma neste momento especialmente
crítico. Não havendo espaço para estados de alma, não há espaço para a vida.
Fazemos o quê? Eu escrevo, é a minha forma de me matar e ir aguentando. A
citação final do Ruy Belo é o axioma que fundamenta a tese.
A Literatura, a poesia e a morte estão assim tão ligadas?
São indissociáveis?
Não sei se são indissociáveis, é provável que sim. Sei que
estão muito ligadas. O amor e a morte são as balizas de um campo onde a
linguagem joga e o texto nasce. A morte é um tema universal, intemporal… mas
este livro, embora muito tocado pela ideia da morte, não é sobre a morte. É
mais sobre a dificuldade de se estar vivo. Noutro sentido, reflecte uma
concepção de escrita que olha para o texto como uma pequena morte. Um pouco de
pele que ficou pelo caminho, células mortas em busca do repouso que um dia o
esquecimento lhes dará. Para mim a poesia é indissociável da vida. Logo,
indissociável da morte.
Já não é o teu primeiro livro. Que expectativas guardas para
este?
Espero que tenha leitores. É só isso que espero. Ou talvez
espere algo mais. Quando publicámos “Estranhas Criaturas” fui estupidamente
acusado pelos editores da revista Criatura de andar a enviar recados. Enfim,
espero agora que os escritores evocados neste livro não se ergam do repouso em
que se encontram para me atazanarem a cabeça. Não pretendo perturbar os mortos,
pelo menos não tanto quanto gostaria de agitar os vivos.
Dá-nos uma ideia para salvar a poesia.
A poesia está em apuros? O Herberto esgotou em dois dias,
precisa de ser salvo. A poesia não.
Como vai ser a apresentação do livro?
Vai ser como devia ser sempre a vida: simples. Pedi ao José
Ricardo Nunes que apresentasse. Ele aceitou. Estava a tratar de encontrar um
café onde nos pudéssemos reunir, em tertúlia, num contexto de proximidade onde os
estados de alma tenham lugar. Mas vai ser na Casa dos Barcos no dia 26 de
Julho, em pleno parque das Caldas, pelas 21:00.