Existe uma mentalidade medieval, fruto ou não do protestantismo anglo-saxónico, na decisão de dar quatro anos de prisão a dois adolescentes ingleses que nem sequer estiveram presentes nos motins de agosto. Antes, somente, tinham «incitado» no Facebook à destruição da sua cidade o que nunca veio a acontecer, diga-se. Já um outro adolescente tinha levado com seis meses de prisão por ter sido encontrado pela polícia com dez garrafas de água roubadas... Não é este o espaço para grandes debates sobre o fenómeno. Mas não deixa de ser curioso o silêncio da maioria dos escritores sobre isto: então «escreve-se» que a sua cidade deve ser destruída e é-se condenado? Então até que ponto a liberdade de expressão é consagrada por lei? Se disser que Coimbra, ou outra qualquer cidade, deve ser implodida depois da efectiva destruição que esta sofreu após a intervenção de presidentes das câmaras e de empreiteiros sem escrúpulos e em eventuais motins se vier a verificar explosões sucessivas, sou condenado por incitar ao ódio? Por outro lado, olhando para estes adolescentes que espero tenham um advogado à altura, e de qualidade, como tiveram os deputados ingleses apanhados este ano a gastarem e a abusarem de cartões de crédito em grandes e pequenas despesas dá-me a impressão que não se tratam de penas para mostrar a inflexibilidade do estado perante simples malfeitores, mas antes o ponto final de quem tem liberdade ou não para poder fazer as coisas, todas as coisas, que vierem à sua cabeça seja roubar ou não, porque aí a generalidade dos políticos o pode fazer sem qualquer pena acessória. Espero que os adolescentes ingleses tenham percebido quem têm pela frente. É o Estado, estúpido!!