Tenho algumas fantasias sobre as medidas que a troika liderada pelo FMI quer impor em Portugal com a concordância quasi bovina do PS, do PSD e do CDS. Não que pense, permanentemente, no conjunto de coisas que nos vão fazer a vida num inferno até 2013 na melhor das hipóteses, mas fantasias são fantasias e não pedem licença para entrar.
Quando vejo sempre os mesmos indivíduos na televisão chorar baba e ranho por causa da classe média «que vai sentir como ninguém» o nacional aperto, penso sempre, em vão, que a dita classe poderia ter uma resposta unida à crise. Mas uma resposta criativa como vi nas manifestações do 12 de Março, essas sim um primeiro sinal-forte-mas-que-o-deixou-de-ser-rapidamente, de uma classe cada vez mais empobrecida e espoliada, virada ao contrário e abanada até lhe cairem mais umas moeditas. Acho que a classe média deveria optar por cortar cerce na higiene pessoal em primeiro lugar. Nunca na cultura. Se cortasse na higiene o impacto de tal medida era logo reconhecido pela política e pela sociedade, em poucos dias. Primeiro começaria o impacto visual: sem champô os cabelos começariam a ser pastosos fazendo inveja a qualquer Jel. O sentido do olfacto tornar-se-ia mais activo nas repartições, nas escolas, nos ministérios, nos hospitais e nos escritórios visto que os desodorizantes e cremes hidratantes eram postos de lado, assim como a água que só seria servida para não nos desidratarmos de todo. Em poucos dias, penso concretamente em sete, seria impossível sair sequer à rua e a classe média daria uma nota picaresca de protesto inaudito. Contra a troika, cortar-se-ia na higiene. Com a aproximação do verão e das suas noites quentes, o protesto seria um verdadeiro sucesso europeu.