Do desconcerto do mundo: GUIAS SONORAS, de João Pedro Mésseder
Aforismos, pequenas reflexões, micro-contos ou sentenças (afirma Ana Margarida Ramos no posfácio): o volume começa aí, pela forma, a desviar-se da aparência tradicional da poesia. Mas, à imagem dos haikus, o limite ou a fronteira dialoga obrigatoriamente com o sistema poético. Esta observação não seria relevante, não fora o caso da elaboração sintáctica e semântica assentar numa desconstrução do literal e até dos lugares comuns era tomo de metáforas, ironias, sinestesias, oximoros que provocam tensões ideológicas. («Existe lixa macia como seda / - isto lhe garantiu o fabricante./ Foi essa a que escolheu para amaciar o seu próprio coraçãd’ (pág. 35). Os motivos temáticos vão-se sucedendo, encadeando quase automaticamente: Vida, Democracia, Guerra, Tempo, Morte, Sono, Sonho, Silêncio... servem para questionar a passividade do ser humano, os seus comportamentos e um certo estado interior que está oculto pelos limites das “Guias Sonoras” e é preciso mostrar, limando a realidade superficial. Mésseder escancara as contradições existenciais, implicando as suas palavras nessas mesmas contradições, não ftigndo da melancolia, apesar do sentido crítico. “No Inverno, as árvores envelhecem. Calvas, esqueléticas, sinistrass. Na Primavera, reconquistam a juventude. E todos acham natural esta inversão da lógica do tempo”(pág. 25). ANDREIA BRITES