Excerto de Para que serve a Literatura? de Antoine Compagnon,
traduzido por José Domingues de Almeida
Lemos porque, mesmo se ler não é imprescindível para se viver, a vida se torna mais livre, mais clara, mais vasta para aqueles que lêem do que para aqueles que não lêem. Para já, num sentido muito simples: a vida torna-se mais fácil – pensava nisso ultimamente na China – para aqueles que sabem ler, não só as informações, as instruções, as receitas médicas, os jornais e os boletins de voto, mas também a literatura. Depois, foi-se supondo durante muito tempo que a cultura tornava as pessoas melhores, e que proporcionava uma vida melhor. Francis Bacon disse tudo: «A leitura torna um homem completo, a conversação torna um homem desenvolto, e a escrita torna um homem preciso. É por isso que, se um homem escreve pouco, necessita de uma boa memória; se conversa pouco, necessita de um espírito vivo; e se lê pouco, necessita de muita astúcia, para parecer saber o que não sabe». Segundo Bacon, próximo de Montaigne, a leitura evita-nos ter de recorrer ao fingimento, à hipocrisia e à astúcia; ela torna-nos, pois, mais sinceros e verdadeiros, ou simplesmente melhores.
As colecções Pulsar e Cassiopeia, resultantes de uma parceria com o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, da Faculdade de Letras do Porto, dão a conhecer estudos muito relevantes no âmbito da Teoria da Literatura.