Rui Bebiano, historiador, professor de História Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Estudos Sociais, destaca, no A Terceira Noite , A Mobilização Global seguida de O Estado-Guerra Santiago López-Petit (trad. e notas de Rui Pereira), num breve texto com o pertinente título - Desesperar é preciso - parafraseando a máxima dos navegadores antigos Navegar é Preciso.
Diz Bebiano:
Sublinho Santiago López-Petit, em A Mobilização Global, enquanto penso nesta cultura do um contra o outro apresentada como único cenário do futuro sem esperança em nome do qual tudo nos é pedido.
«Estamos sós face ao mundo. Ou, o que é o mesmo, interiorizámos aquilo que os nossos governantes nos repetem incessantemente: ‘a vossa situação depende apenas de vós mesmos’. E acreditamos que é assim. Temos nós próprios que sair do atoleiro, o que dito pelas palavras próprias da cultura empresarial significa que temos de nos avaliar continuamente. Contra nós mesmos, contra os trabalhadores dos outros países que se esfalfam por conseguir a mesma produção cobrando menos. Incerteza que gera insegurança, insegurança que produz medo. Medo do outro que é como eu. Medo do outro, que é estrangeiro, porque não é como eu. (…) O [novo] estado de natureza alastra como um mar enfurecido até cobrir-nos por completo.»
E mastigo a certeza de que a esperança apenas pode nascer do desespero.