Foto Xoán Soler - La Voz de Galicia
Marilar Aleixandre afirma que tem a língua fendida e que usurpou o nome da sua mãe. O seu primeiro poemário, Catálogo de Venenos (1999, premio Esquío), foi seguido por Desmentindo a primavera (2003, Xerais), Abecedário de árvores (2006) e Mudanças (2007, Premio Caixanova-PEN Clube), uma reescrita das metamorfoses desde as vozes das mulheres. Bióloga de formação, professora de Didáctica das Ciências na Universidade de Santiago de Compostela, mas com um pé na Costa da Morte, referência dos contos de Lobos nas ilhas (1996, Xerais), ou de histórias infantis como A vaca de Fisterra. Os seus romances mereceram prémios como o da Xerais por Teoria do Caos (2001, Xerais), o de Álvaro Cunqueiro por A Companhia Clandestina de Contrapublicidade (1998, Galaxia) e na literatura juvenil, o de Lazarillo por A Banda sem Futuro (Xerais, 1999, em português Âmbar, 2001), ou o da Crítica da Galiza por A expedição do Pacífico (Xerais, 1994; Dom Quixote, 1998); sendo a última Rua Carvão (Xerais, 2005) sobre o conflito no País Basco. Também publicou ensaio, teatro e guiões de banda desenhada.
Derrotas Domésticas
deve ter sido muito difícil
degolar as enguias
sem cortar os dedos
desviar-te para que não te envolvessem
as escamas do besugo
fugir do nó corredio dos lençóis
nas noites opacas
que batalhas contra os grãos-de-bico
crescendo disformes na água que absurda tarefa
separar as lentilhas do arroz
que impotência
quando o leite fervido vai por fora
inevitavelmente
e se a barafunda das frigideiras
não te deixava ouvir música
se o teu francês e alemão
eram inúteis contra a gordura dos fogões
se os canos de água berram como crianças
ou gaivotas e as batatas se pegam
ao fundo da panela
mãe
como é que estás a sorrir nas fotos?
Catálogo de Venenos
(Tradução de Paula Cruz)
A Marilar estará dia 25 de Janeiro, pelas 21:30, no Clube Literário do Porto. Contará com a presença de José António Gomes e de Paula Cruz