Norman Rockwell
Preparo-me para um dia tramado. Era o dia da apresentação, no Clube Literário, de Meridionais de João Pedro Mésseder pela Paula Cruz. Correu bem, muito bem, mas não há volta a dar e o nervoso miudinho é o de sempre. E também como sempre compro uma resma de jornais e bebo café mais do que o aconselhado.
Abro o Ipsílon e deparo-me com um apelo logo na página de abertura: «Salvem a crítica literária nos jornais» (sem ponto de exclamação, como quer o Mexia, que é contra). Nada que já não escrevessemos aqui no Deriva das Palavras e já há muito tempo - aponte-se para que não se esqueça! Não deixa de ser estranho, contudo, que um jornal que apela desta maneira a que não se acabe com a crítica literária nos jornais, tenha sido o mesmo que acabou com o Milfolhas e com a colaboração de muitos jornalistas culturais, assim como diminuiu drasticamente o espaço para os livros. Tal como todos os jornais diários e semanários ditos de referência. Voltemos à notícia em questão: tratava-se de uma petição on-line da americana National Book Critics Circle que apelava ao envio de cartas de leitores para as direcções de jornais e de editores (de jornais!) para que não se acabasse, sem mais, com a crítica de livros. Não consta que mandassem para Portugal, visto que não devem ter razões de queixa. Escritores americanos em jornais portugueses é só escolher. Conseguiram ao que consta 5442 assinaturas! Nada de especial, diga-se, e que faria sorrir um qualquer candidato à Câmara de Lisboa.
Ora, eu tinha comprado a tal resma de jornais de referência. Era o dia da apresentação de Meridionais e o dia Internacional de Museus. Dos quatro jornais só um escrevia da presença de Manoel de Oliveira em Cannes, o mesmo que referia a VII edição do Imaginarius de Santa Maria da Feira, outra referência a Ricardo Pais no TNSJ e a Baptista-Bastos tudo junto com páginas de Britney Spears, Michael Moore, Wraygunn, The Who, Julio Iglesias, Madonna, Paris Hilton, o filme Zodiac, Hillary Clinton, a depressão de Lars von Trier, Anne-Nicole Smith mais a publicação dos seus diários, Mick Jagger e Demi Moore. Falta de crítica literária? Não... isto é outra coisa, mas preparemo-nos... acabe-se a crítica e venha daí o fait-divers. Pelas «tranferências» a que assistimos nos jornais de referência bem podemos ficar descansados. Eles são críticos (também de referência, claro) sempre defensores dos livros e da literatura (de referência, é óbvio) a passaarem directamente para outros suplementos e para outras «realidades» mais digitais, mais turísticas, mais mediáticas. Estamos (mais) conversados...
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