sexta-feira, fevereiro 03, 2023

«A Mais Baixa Profissão», Boris Vian

 

Editado pela Hiena em 1995, 30 anos após a sua 1ª edição póstuma pela Jean-Jacques Pauvert, não sem alguma polémica na ocasião, visto que não é certo, como aliás afirma Aníbal Fernandes em prefácio, que Boris Vian, falecido em 59, alguma vez estivesse de acordo com a sua publicação. No entanto ela existiu, sob protesto de Vian e porque censurada, em 1950. Aliás, em 1959 o seu coração já debilitado desde jovem não aguentou ao ver a versão cinematográfica de «Irei cuspir-vos na Campa». Não chegou a ver o filme completo, pois.
 
Trata-se de uma pequena peça de teatro, traduzida igualmente por Aníbal Fernandes, que serviria para complementar uma outra «L'Equarissage (Pour Tous)» já que teria somente 1 hora de duração!! Mas a verdade é que naquela pequena obra está lá todo o Vian que conhecemos: mordaz, irónico, surrealista, anarca. Não saberemos nunca qual das profissões é a mais baixa de todas: se a de padre, a de polícia, a de sacristão ou de repórter. Para o caso tanto faz. Poria todos no mesmo saco, embora a profissão de ator, ou melhor, de figurante que está na plateia para aplaudir, também não se safa do rol.

Nota curiosa: Aníbal Fernandes fala da apresentação da peça no Teatro Aberto e sem grandes comentários ou circunstâncias (e é pena) informa-nos de estudantes de Coimbra a «gozarem» com «A Mais Baixa Profissão». Sabemos do que estudantes de Coimbra são capazes e, por causa disso, a «cidade do conhecimento» como a si própria se intitula esteve décadas sem conhecer movimentos de vanguarda ou de protesto entre 1870 (as célebres Conferências...) até 1969. Depois da explosão libertária do Prec (que durou pouco na urbe inquietada), voltou à modorra que hoje conhecemos. Investigaremos, contudo, este facto.

Boris Vian, como sabemos, era igualmente engenheiro de máquinas, para além de músico, poeta, escritor e cantautor. A máquina-confessionário que ele próprio desenhou (para esta peça?) é de ser apresentada aqui:
A Máquina de Confessar, de Boris Vian. Hiena, 1995

Editora Hiena, 1995
Prefácio e Tradução de Aníbal Fernandes
Capa de Rui André Delídia

António Luís Catarino