Este desenho é icónico e os situacionistas inscreveram-no na sua revista. Sobre estes mesmos traços diz Anselm Jappe em «Capitalismo em Quarentena» o seguinte: «O mundo contra o qual lutaram os situacionistas parece, em comparação, quase idílico. Lembremos este exemplo, que vem dos estudos de Paul-Henry Chombart de Lauwe (1952): o registo de deslocações de uma jovem durante um ano desenhava graficamente um triângulo, apontando os vértices para a sua casa, a escola e as aulas de piano. Reproduzindo esse gráfico na sua revista, os situacionistas, para quem a vida deveria ser uma viagem, mostravam indignação perante uma existência tão limitada. Comparada com o quotidiano actual, com o trabalho à distância, as compras entregues ao domicílio e os «encontros» na aplicação Zoom, a vida daquela jovem adquire ares de aventura.»
Após esta afirmação, Anselm Jappe tem o cuidado de nos avisar que se deve evitar qualquer tipo de nostalgia ou da lógica do «menos mal» ao ler o seu parágrafo, não vá a docilidade de uma suposta crítica ao estado das coisas impor-se e tornar-se o «novo normal»!
Revista da Internationale Situacioniste, número 1, Junho de 1958
António Luís Catarino