quarta-feira, julho 14, 2021

Cuba: não é uma ''teoria''. É uma conspiração

Foto: Público

Não é uma ''teoria'' da conspiração. É uma conspiração. Cuba tem resistido a invasões, a tentativas de assassinatos, a propaganda mentirosa, a serviços secretos poderosíssimos, a um embargo económico de largas dezenas de anos. Dizer que o governo cubano sobrevive devido ao embargo americano é tão falso como falsa é a afirmação de que vai tudo bem em Cuba. Sabemos que não vai. Falta muita coisa diariamente, a pandemia agravou a situação económica, o desemprego aumentou e não é qualquer país, ou qualquer povo, que aguenta o que Cuba tem suportado nestes anos todos. Ouvir e ver Biden a defender a liberdade em Cuba é um enorme contrasenso que só a sociedade do espectáculo pode criar. Como igualmente mete dó ver Santos Silva a defender o direito de manifestação quando não o fez com a repressão brutal em França e na Catalunha onde a polícia disparava balas de borracha para os olhos dos manifestantes, para não falar desde logo no regime racista de Israel e no comportamento dos seus militares para com os palestinianos. E isto não acabava... mas Cuba é uma linha vermelha, sim. Aos meus amigos que levantam dúvidas legítimas sobre o que se está a passar na ilha que resiste ao imperialismo americano que invade, violenta, mata por inanição povos inteiros deslocando-os em filas intermináveis de refugiados, só peço que pensem um pouco antes de tecerem críticas a Cuba. Primeiro, seria necessário que colocassem nos pratos da balança da honestidade intelectual e que olhassem para a sociedade da maioria dos América do Sul, com séculos de exploração desenfreada colonial e pós-colonial, com intervenções do «amigo» americano em golpes sangrentos descritos por Galeano e Kapuschinsky, no liberalismo mais selvagem que o mundo conheceu na saúde, na educação, na pobreza extrema em que se sobrevive com menos um dólar por dia, na taxa de mortalidade infantil altíssima, na decrescente média de esperança de vida de populações, no ataque à cultura indígena e na violência política e social quotidianas. Mas para legitimar uma crítica a Cuba era também necessário que se houvesse expresso o mesmo peso e medida para com as centenas de mortos e desaparecidos na Colômbia em levantamento popular, na ameaça de golpe no Perú não dando posse ao presidente que ganhou as eleições, às manobras desestabilizadoras americanas na Venezuela e na Bolívia. Tem sentido o apoio a Cuba? Para mim, sim. Faz todo o sentido que os povos da América do Sul decidam livremente os seus destinos sem interferências externas. E faz parte do direito internacional, mesmo que os americanos o tenham transformado em lixo e muita gente se ria quando este é lembrado.