Tamila Kharambura Foto: Casa da Música
Sempre me habituei a ouvir a Orquestra Sinfónica do Porto e
digo-vos que vale a pena ir ouvi-la na Casa da Música sempre que puderem. Os
músicos mudam, os maestros também, mas consolida-se uma opção clara pela
qualidade e pela fuga ao facilitismo. Parece que cada maestro que vai, deixa um
rasto inesquecível. Lembro-me de alguns.
A última vez que a vi (e ouvi) foi há pouco tempo. Dirigida
pelo maestro Pedro Neves, ouvimos as composições de Pedro Amaral, de Clotilde
Rosa e de António Pinho Vargas. Se o primeiro se ouviu com prazer, a segunda
levanta-me já algumas questões que possivelmente, para um leigo como eu, nada
tem a ver com a harpista/compositora tardia. Segundo o que se percebeu Clotilde
Rosa, que nos deixou em 2017, pertenceu ao ensemble de Jorge Peixinho que nos
anos 70 os provoca desta maneira: cada um dos músicos comporia uma peça que, no
final, se uniam numa única composição. Desafio aceite e Clotilde Rosa não mais
parou com o «bichinho » da composição. Atenção que não era qualquer músico que
tocava com Peixinho, portanto a qualidade da música/compositora é
inquestionável, lembrando igualmente que a sua formação foi construída no Grupo
de Darmstadt, com Boulez, Stockhausen e Ligeti antes de Peixinho. Portanto, mal
de mim vir para aqui analisar isto ou aquilo. Falo, por isso, de emoções que a
música me cria e particularmente a música concreta e contemporânea que sigo com
alguma regularidade. Ouvir Clotilde Rosa foi bom, mas custa-me enquadrá-la na
música concreta. São demasiados bombos, metais e tímbales que exportam a euforia da autora. É possível que
nos anos 70 a alegria fosse a regra (foi e eu vivia-a) e as composições de Rosa tenham essa impressão. Ou seja, a harmonia está muito presente o que me
fez interrogar e achá-las deslocalizadas. Só ultrapassei esse desconforto com a
última composição (foram apresentadas três sem título) quando entrou o piano de
Jonathan Ayerst. Mas aparte disto há uma terrível injustiça para com Clotilde
Rosa. A Secretaria de Estado da Cultura encomendou-lhe desde 2007 várias obras que ela
transformou em longas composições e óperas...nunca ouvidas! Só a Orquestra
Sinfónica do Porto pela mão de Pedro Neves inaugurou este trecho. Uma vergonha,
portanto, não sabermos mais sobre ela e principalmente as últimas composições.
António Pinho Vargas estava presente na Casa da Música e teve uma
enorme ovação merecida com o seu Concerto para violino in memoriam de Gareguin Aroutionian cuja estreia foi a 7 de
fevereiro de 2016 com a Orquestra Metropolitana de Lisboa no CCB. Pinho Vargas
foi, é, e será sempre um compositor extraordinário. Dos poucos que já nos
restam dessa geração. A ovação foi também por isso e ele sentiu-o. A surpresa
final foi a apresentação de uma violinista do outro mundo: a ucraniana Tamila
Kharambura. Não esqueçam este nome. Extraordinária. Eleva-nos sei lá para onde. Se não a conseguirem vê-la
e ouvi-la ao vivo (vive em Lisboa de tempos a tempos), há um CD da sua estreia
editado pela mpmp em 2017.
António Luís
Catarino
Coimbra, 14
de junho de 2019
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segunda-feira, junho 17, 2019
Tamila Kharambura e Pinho Vargas. Na Orquestra Sinfónica do Porto
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