Organigrama dos nomes envolvidos no assassinato de Olof Palme segundo Jan Stocklassa e baseado no arquivo de Stieg Larsson. Do livro «Stieg Larsson», saído há pouco. |
Nestas ocasiões em que o trabalho aperta em burocracias
dementes e sem sentido, deu-me para comprar o livro de Jan Stocklassa titulado
de «Stieg Larsson», na esperança de me encontrar com alguma paz, sem que me
desse ao trabalho de pensar muito. O policial não é bem o meu género, mas li
toda a saga (3 volumes mais 2 que foram editados após a sua morte prematura) de
«Milennium» deste jornalista sueco. Também vi o filme homónimo com Craig como
ator. O que Jan Stocklassa, outro jornalista de investigação sueco, faz é em si
muito simples. Conseguiu ter acesso aos arquivos de Larsson sobre o assassínio
de Olof Palme nunca resolvido pela SAPO ou pela polícia sueca. Houve vários
acusados, mas posteriormente libertados...alguns para morrerem em seguida, em acidentes de automóvel, com overdoses, etc. As
testemunhas eram contraditórias, em particular a de Lisbeth Palme que se feriu
levemente com um segundo tiro. A pista de Larsson apontava para a
extrema-direita. A de Stocklassa, além de concordar com ele, acrescenta mais
conexões. E que conexões! Tive o cuidado de dar a Vossas Excelências que me
lêem (estou a atingir mínimos históricos no Facebook!) o organigrama que ele
fez com alguns dos nomes que estão claramente ligados ao assassínio e nunca verdadeiramente interrogados por quem o deveria ter feito. Além disso, foram relativamente fáceis de encontrar pelo jornalista. A
verdadeira teia vai desde a extrema-direita sueca (que fez o papel de autêntica
papalva como de uma fantoche se tratasse, só se dando conta disso tarde demais), a CIA, O MI6 inglês, a Coordenação
superior da SAPO, o almirantado, os ricos aristocratas industriais
suecos que dão dinheiro a rodos para a extrema-direita, a Mafia italiana, a
conexão internacional da venda de armas para a guerra entre o Iraque-Irão (lembram-se do
papel de Portugal nisto?), a UNITA com um nome que não vem no organigrama mas
que se chama Luís Albuquerque representante do movimento na Suécia, a Polícia
Política sul-africana do apartheid com Pik Botha à cabeça e a DINA chilena.
Ora, o meu cuidado foi pôr a vermelho os que sofreram «acidentes» fatais na Suécia ou os agentes que
estavam para depor na Comissão Verdade e Reconciliação na África do Sul já então de Nelson
Mandela, acidentes esses tão brutais como brutal era a polícia branca e
fascista de Botha. Todos eles morreram e alguns com as suas famílias, como era comum no modus
operandi desta polícia. Mas sul-africanos, suecos ou de outras nacionalidades nenhum morreu na cama! A amarelo coloquei os que sabiam com antecedência e que
terão promovido e ajudado material e logisticamente ao assassínio de Palme. Hoje alguns estarão vivos.
Mas porquê a morte Palme? Ora, sabe-se que ele estava nas
vésperas de denunciar a conexão da venda de armas sueca que passava pela África
do Sul, Chile, Chipre, Seichelles, etc...Alguns empresários milionários chegaram a estar
detidos pelo Departamento de Finanças e estavam prontos a falar. Por outro lado estaria em preparação uma
limpeza da extrema-direita nos quadros superiores da SAPO e Marinha suecas. O
apoio À SWAPO, ao ANC e igualmente à Frelimo e a Moçambique, tal como à Namíbia, também não passava despercebido pela polícia
sul-africana que matou a mulher de Joe Slovo e o secretário-geral do PC, Kani, entre muitos outras vítimas, quer à metralhadora, quer com cartas-bomba.
Os refugiados chilenos de Pinochet eram aos milhares na Suécia o que deveria irritar a DINA. Mas adiante que vão
conhecer alguns nomes:
No centro de tudo, ou seja, o cérebro operacional da
operação, está um indivíduo perigoso que se move particularmente bem
nos movimentos mundiais da extrema-direita:
Bertil Wedin, que Stocklassa entrevistou em 2016 já velho e no Chipre
turco, onde não há tratados de extradição para nenhum país. Viveu sempre lá e de lá vieram algumas das diretivas mais importantes deste caso. Simpático, não negou nenhum dos crimes de morte, que foram vários. Chegando ao caso Palme, foi propositadamente vago. Mas afirmou que sabia de antemão o que se preparava. Agora reparem
nas linhas esquerda e direita ao lado deste nome:
Craig Williamson
– MI6
Pik Botha – Ministro dos Negócios Estrangeiros do apartheid
sul-africano.
Alf Enerstom – Perigoso e assassino operacional. Matou várias pessoas fora da Suécia, por encomenda. Liderou e uniu vários movimentos de extrema-direita. Tinha sempre muito dinheiro disponível. Entrevistado por Stocklassa disse conhecer antecipadamente o atentado. Esteve
presente no local. Ainda vive, hoje está num hospício, mas mesmo assim acompanhado
por um «secretário» que não o deixa falar demais.
Jacob Thedelin – Presente no local do assassinato. Judeu,
foi dos poucos que teve, rapidamente e após o crime, direito ao difícil visto de residência permanente em
Israel. Nunca mais saiu de lá o que poderá colocar a Mossad no terreno. Provavelmente foi o que carregou no gatilho, de
um modo canhestro, de amador. Perfeito para ser um «bode expiatório». Ligado à extrema-direita dos Democratas Suecos, hoje representados no parlamento e no governo.
Eugene de Kock – Operacional da polícia sul-africana. Estava
na Suécia na altura do atentado. Pensa-se que nas imediações do local.
Acompanhado por mais quatro agentes, saem da Suécia no dia seguinte, sem quaisquer problemas.
William Casey – Não o
conhecem? Chefe da CIA na época Reagan. Provou-se contactos com Bertil
Wedin e com ligações fortes à conexão da venda de armas americanas (ver em baixo Oliver North).
Mario Ricci – Ligações à Máfia italiana e vendedor
internacional de armas. Joavan von Birchan era o seu contacto na Suécia.
Vendiam principalmente para o Irão através de navios que faziam escala na
África do Sul para outros barcos. Quando Olof Palme tentou barrar este negócio, os aviões da CIA
fizeram o resto, com Oliver North à cabeça. Lembram-se do seu silêncio e do «julgamento» dele? Há muito que está em liberdade. Considerado um herói pelos republicanos e democratas americanos.
É preferível ficar por aqui. Ainda há quem queira ou quem
possa falar, mas por que o haveria de fazer passados 30 anos do assassínio (foi
em 1986) e correndo o risco de cair no ridículo ou, pior, um maluquinho que acredita em teorias da conspiração? Seria, quiçá, mais uma fake news?
Lindo, para quem quer um livro para não pensar muito, somente para
apaziguar o trabalho.
António Luís Catarino
Coimbra, 22 de junho de 2019