«O escritor suíço Max Frish (1911-1991) é, sem dúvida, um dos ícones da literatura de expressão alemã dos anos 50. A sua obra, que no período coincidente com a ascensão do nazismo e com a 2ª Guerra Mundial se revela desligada de qualquer comprometimento político, concentra-se, a partir do final dos anos 40, na questão do papel que cabe ao ser humano, esmagado pela culpa e pelas pressões do poder. Terá sido Frish um dos primeiros escritores a levantar a questão da responsabilidade no desenrolar da guerra que deve ser atribuída à Suíça, tão ciosa da sua neutralidade.
Nas peças teatrais e na prosa ficcional e não-ficcional que publica a partir de 1950, Frish alia a velhos motivos literários, como a dificuldade de conciliar a vida artística com a vida burguesa, outros temas que se tornarão centrais no século XX: a busca da identidade própria, o relacionamento com o outro, os limites e condicionalismos da linguagem. A estas grandes questões juntam-se aquelas a que se foram impondo como próprias do pensamento frischiano: a necessidade de uma inquietação constante e da questionação de todas as certezas, bem como, principalmente, a importância de não criar imagens do outro nem aceitar como boas imagens que outros construam de nós próprios, e, ainda, o perigo do ser humano falhar a sua própria existência e de se alienar de si próprio. (...)»
Introdução, págs 7/8. Teresa Martins de Oliveira