Se algum facto político me conseguiu ainda chocar foi a
«cerimónia» de entrega do Nobel da Paz à coisa chamada UE. Não que a Europa não
seja um projeto interessante e socialmente útil se não tivesse sido assaltado
por esta gente neoliberal que o transformou num grupo político cujo único
sentido é a sua própria sobrevivência à custa dos povos e dando as mãos às mãos
dos banqueiros.
Avivemos pois a memória. Os povos europeus foram dos mais
massacrados a nível mundial levando o seu sofrimento à demência de duas guerras
arrasadoras só num único século. Para trás desse século, o que restou, o que
resta da História, não é coisa fácil de analisar. São tempos de razias mundiais
de monarquias dissolutas que, muitas vezes por birras pessoais, outras por
cobiça, outras ainda por ódios nacionalistas sem sentido, levaram à morte, à
fome, à humilhação de centenas de milhar de europeus, para não dizer de
milhões. As ditaduras, os absolutismos vários, os totalitarismos deixaram o seu
rasto de prisões, de massacres, de genocídio de povos, muitos deles indefesos.
Portanto, se alguém conhece a matriz genética dos governos europeus são os seus
povos. Infelizmente conhecemo-los bem e à sua pequena história e, mesmo que a
queiram apagar de supetão, teimaremos em mostrá-la tal como ela é: um desfilar
de incompetências e de vaidades que, num dia qualquer, havemos de recusar em
bloco.
Os discursos de ontem foram terríveis na sua vacuidade. Foram
vazios e quase criminosos porque lhe faltou a centelha de esperança que se deve
dar a quem passa mal, como hoje a Europa passa. O prémio de Oslo, a toque dos
Oquestrada (Oquepena!), foi aproveitado por aquela gente ridiculamente
perfilada que está nos governos europeus. O prémio dos povos esses recebê-lo-ão
pelas suas mãos quando os pusermos dali para fora e criarmos uma Constituição Europeia digna desse nome e de quem cria riqueza e trabalho, motor de todas as sociedades.