Eu, ontem, fui ver um filme fascistóide, disfarçado de épico. Está lá tudo o que enforma a ideologia: desde o culto da força à incomodidade espacial da imigração, desde a necessidade premente da disciplina à conquista da felicidade terrena, desde a construção de uma nova ordem à conquista territorial, agora transposta para o espaço. Como nova afirmação da humanidade, transformada numa «Una
nimidade», que tudo justifica. Nem lhe falta um filósofo de serviço. Quem? O grande Soljenitsyn, esse mesmo, o adorador de Pinochet. O filme em si é uma tanga, mas é perigoso, devido à sua crítica ao capitalismo e ao dinheiro «que tudo corrompe» (outro valor fascista) que pode confundir os mais incautos ou os distraídos. Hollywood adapta-se aos tempos. O nome do filme? Cloud Atlas.
Mas não vos contei tudo. Há uma cena inicial do filme que vale a pena contar-vos: passa-se no terraço de um prédio, para onde se organizou a apresentação de um livro de um escritor mais ou menos falhado, isto é, que não vendia nada, isto é outra vez, regulado pelo gosto do mercado, que assim é que deve ser. O escritor arfava de raiva contra um crítico que, rodeado de gajas boas, bebia uma coisa entre o gin tonic e um martini branco. O editor acalmava-o. O escritor lembrava-lhe uma antiga recensão destruidora da sua carreira e vai daí atira o crítico pela janela fora. As pessoas no cinema riram-se. O escritor vai para a prisão. O editor ganha balúrdios com o best seller em que se torna o novo livro. A vingança só é completamente terminada com a reclusão forçada do editor num lar para velhos que tenta recriar o célebre Voando Sobre Um Ninho de Cucos, de Kubrik.
Não gosto da ideia de criticar um crítico e fazer alarde avacalhado disso mesmo aqui nas redes sociais ou no cinema. Revela aquilo a que chamamos de anti-intectualismo básico, para além de falta de bons fígados a que um punhado de jovens escritores deviam tomar atenção. Principalmente, quando esse crítico tem razão. Mas aí também se encontra o gérmen desse fascismo atual e da indigência de quem julga muito bom o que escreve e o que vende. Infelizmente, não é assim e o mercado (essa coisa que se diz reguladora) também faz comprar o que lhe convém. O nothing box dos tempos que correm.
nimidade», que tudo justifica. Nem lhe falta um filósofo de serviço. Quem? O grande Soljenitsyn, esse mesmo, o adorador de Pinochet. O filme em si é uma tanga, mas é perigoso, devido à sua crítica ao capitalismo e ao dinheiro «que tudo corrompe» (outro valor fascista) que pode confundir os mais incautos ou os distraídos. Hollywood adapta-se aos tempos. O nome do filme? Cloud Atlas.
Mas não vos contei tudo. Há uma cena inicial do filme que vale a pena contar-vos: passa-se no terraço de um prédio, para onde se organizou a apresentação de um livro de um escritor mais ou menos falhado, isto é, que não vendia nada, isto é outra vez, regulado pelo gosto do mercado, que assim é que deve ser. O escritor arfava de raiva contra um crítico que, rodeado de gajas boas, bebia uma coisa entre o gin tonic e um martini branco. O editor acalmava-o. O escritor lembrava-lhe uma antiga recensão destruidora da sua carreira e vai daí atira o crítico pela janela fora. As pessoas no cinema riram-se. O escritor vai para a prisão. O editor ganha balúrdios com o best seller em que se torna o novo livro. A vingança só é completamente terminada com a reclusão forçada do editor num lar para velhos que tenta recriar o célebre Voando Sobre Um Ninho de Cucos, de Kubrik.
Não gosto da ideia de criticar um crítico e fazer alarde avacalhado disso mesmo aqui nas redes sociais ou no cinema. Revela aquilo a que chamamos de anti-intectualismo básico, para além de falta de bons fígados a que um punhado de jovens escritores deviam tomar atenção. Principalmente, quando esse crítico tem razão. Mas aí também se encontra o gérmen desse fascismo atual e da indigência de quem julga muito bom o que escreve e o que vende. Infelizmente, não é assim e o mercado (essa coisa que se diz reguladora) também faz comprar o que lhe convém. O nothing box dos tempos que correm.