«Desde que o Futuro Primitivo surgiu, o som crescente da vida moderna tornou-se pior do que alguma vez poderíamos imaginar. Uma metamorfose crescente, que transformou não só a textura do estilo de vida, mas também todo um sentir das coisas. Num passado não muito distante, isso era ainda uma modificação parcial: agora a 'Máquina' arremete contra nós, penetrando cada vez mais no quotidiano das nossas vidas sem hipótese de fuga à sua lógica.
A única continuidade estável tem sido a do corpo, e este tornou-se vulnerável de uma forma sem precedentes. Agora, de acordo com Furedi (1997), fazemos parte de uma cultura de alta ansiedade que confina de um estado declarado de pânico. O discurso pós-moderno suprime as marcas do sofrimento, sendo uma faceta da sua acomodação à inevitável e sistémica desolação que se aproxima. A proeminência de doenças crónicas degenerativas estabelece um paralelo arrepiante com a erosão permanente de tudo aquilo que é saudável e pleno de vida numa cultura industrial. Assim, sendo possível ainda retardar a doença, afigura-se contudo impossível a sua erradicação total, dado que não se reconhece a raiz do problema.
Por muito que suspiremos pela comunidade, tudo está morto. (...)»
John Zerzan, Prefácio para a edição portuguesa de Futuro Primitivo, 2007