quarta-feira, outubro 05, 2011
Austeridade republicana
O senhor Cavaco Silva deve ser um saloio. Um saloio português e republicano. E austero, também. Pouco me importa quantos carapaus come ao almoço para que se prove consistentemente a sua «austeridade republicana», mas devo dizer que me chateia desde já que o homem ande a repetir a necessidade de sacrifícios contínuos à populaça que sempre cumpriu minimamente com o que se lhe pediu. Lembramo-nos todos que trabalhámos o que se pediu, pagámos o que se pediu, descontámos o que se pediu, aceitámos candidamente o que os governos nos roubaram na inflação, pagámos o IRS e o IRC, as mais-valias, as casas e os aumentos dos spreads, o aumento sucessivos do IVA, a publicidade enganosa dos bancos, o imposto automóvel, as Scuts, o aumento dos transportes públicos abusivos, as propinas, os descontos nos ordenados que todos os anos, há muitos anos, se vão minguando, os congelamentos, os despedimentos porque os patrões podem agora despedir se acordarem com o cu virado para a lua. Agora pede-nos o saloíissimo presidente que acreditemos que estamos perante o fim das ilusões. Claro que sim e bastava para isso ter assistido às manifestações do 12 de Março e das últimas dos sindicatos. O senhor Cavaco Silva como saloio que é, pede-nos que acreditemos que ele acredita nisso, ele que chefiou um governo que vendeu ilusões, alcatrão e empréstimos a rodos e desmantelou a economia produtiva só para se ser bom aluno da Europa. O que ele quer é dizer que nos avisou a tempo, mas que ninguém o ouviu. Como um bom saloio que é!