Já tinha estado com a Isabel Sousa há uns tempos e notava que estava doente. Mas a Isabel é daquelas pessoas que nunca acreditamos que se vá embora assim, de supetão, como que ficasse suspensa uma despedida, nem que fosse breve e sempre com uma ocasião marcada para nos revermos. Quando tive a confirmação da sua morte, não quis saber da data, da causa, de mais nada…lembrei-me da sua obra e da sua intervenção nas Derivas de Fevereiro, em 2008, sempre polémica e nada consensual. Gostou muito dos miúdos do Cerco que, nessa ocasião, disseram poemas pela mão da Elisa Alves. Apontou caminhos para a sobrevivência (não se leia subserviência) das bibliotecas já próximas da asfixia. Achava que devíamos mandar o Estado às malvas e tratar da nossa vida com os mais miúdos. Trazê-los às bibliotecas e à leitura de uma forma aberta e sem contemplações ou cedências. Ler custa. Iniciar um processo de leitura é um acto por vezes doloroso e que supõe alguma teimosia. A alegria virá depois. Por isso, disse na altura a Isabel, tinha tudo para desconfiar do Plano Nacional de Leitura que absorveu muitas das energias que a maioria das bibliotecas tentava pôr em prática. Tinha, eventualmente, razão.