Tive hoje uma certeza: a Largo Caballero já não lhe pesará muito o anátema de ser o primeiro e único anarquista a pertencer a um governo. Naquele caso o governo da Frente Popular espanhola de 1936 e não importa que fosse ou não democrático, se eleito, se nomeado, com autorização da CNT-FAI ou sem ela, que não será isso que virá hoje ao caso. Para a história ficou a de um governo legítimo que perdeu com Franco, o golpista. Hoje, Caballero dividirá este anátema com Maria de Lurdes Rodrigues, que em entrevista ao P2 do Público de hoje (28/11) diz sentir-se ainda anarquista (só nos valores e nos princípios). Relembra, com alguma nostalgia, os sábados e domingos que passava a colar selos nas cartas da Revista Ideia e a embrulhar o jornal A Batalha. Tardes onde não seria preciso pensar muito e onde se repetiam os gestos mecânicos. Vale a pena ler este artigo. Nunca me seduziu a personagem, mas é incrível como não consegue fazer valer uma só ideia sobre educação que a tivesse norteado nesta deriva autoritária contra tudo e todos. Percebe-se o afã quando deixa escorregar uma frase assassina sobre as reformas: que se diz que não se podem fazer contra os seus profissionais, mas, diz ela, a história ensina-lhe que pode fazer sem eles. Assim se compreende a ministra anarquista, muito pouco dada ao pensamento socrático ou, parece-me, a qualquer outro... ah, aquelas tardes de sábado e domingo a colar selos e a empacotar jornais! E, hoje, também me apetece ser monárquico - Viva, pois, o Rei Ubu!