Um Apocalipse
agora é que tinha graça encher campos de relva de soldados e derrubá-los com os braços, pegar-lhes pelos capacetes e pô-los nos sítios do globo que nos apetecesse, agarrar no ar obuses e mísseis e espetá-los uns contra os outros, empurrar tanques por desfiladeiros, desligar centrais nucleares e bombas e amontoar dinheiro para o derreter e queimar, cobrir o jogo de lágrimas verdadeiras a conta gotas nos olhos dos homenzinhos armados em grandes, os que chamam melancolia ao amor e nostalgia à humildade, os que monopolizam e manipulam a história, informatizam a eternidade, esquecem-nos ou esquecem-se
in Mágoa das Pedras, Deriva, 2008