quarta-feira, maio 11, 2022

«Kitsch», de Fritz Karpfen

 

Sinceramente, não entendo as toneladas de páginas que foram publicadas acerca do fenómeno «Kitsch» quando Fritz Karpfen, logo em 1925 fez esta síntese notável e que a Antígona,em 2017, publicou com tradução e introdução de João Tiago Proença.

Assim, não é kitsch quem quer, nem quem pode. O kitsch aparece quando menos se espera, literalmente, podemos dizê-lo, logo ao virar da esquina. Ele aparece na arquitectura, na literatura, na poesia, na imagem, na publicidade na pintura. O kitsch surpreende-nos elaborado por nomes importantes da nossa praça artística e até por clássicos medievalistas, renascentistas, góticos, rococós...contemporâneos! 

Surge o kitsch, inclusive, na sala de estar ou na guerra: «Não revelará a absoluta falta de lógica, a falta de espírito guerreiro, o facto de esta época ''grande'', ponto de viragem da História, não ter produzido uma única obra de arte? Somente a negação, a indignação, a contra-acção da Humanidade difamada criou a arte da guerra. Os únicos monumentos de guerra de importância artística intemporal são os testemunhos contra a guerra mundial.(...) O que na guerra nasceu de ''a arte e a guerra'' já caiu hoje no esquecimento - como a lírica e o romance de guerra. O mesmo se passou na literatura: a maldição lançada sobre a loucura, a revolta contra a guerra criaram as grandes obras literárias - obras que atingiram uma validade imortal. (págs. 59,60)»

Mas a mais notável definição do Kitsch aparece-nos no capítulo referente ao Kitsch Moderno: «Se, por acaso, numa exposição moderna, todas as obras forem más e deploráveis, nem por isso deixa de faltar muito para serem kitsch. A diferença é a seguinte: as coisas são formadas, à maneira dos epígonos, em conformidade com modelos antigos, essas são kitsch, pois falsificam o estilo e a vontade da época. . Os objectos, porém, que são formados sem nenhum modelo existente, que tão ousados são, que têm uma acção provocatória e são desprovidos de todo e qualquer valor artístico, podem ser maus, disparatados, inartísticos e vulgares - mas kitsch é que não são! Porque não falsificam nada do passado nem falsificam nada do presente, porque não mentem. Talvez seja uma atoarda e, por isso, uma completa fraude. Pois bem, suponhamos que se trata mesmo de uma fraude. Mas fraude e kitsch não são uma e a mesma coisa. (págs.77 e 78)».