Segundo volume da saga de Elena Ferrante iniciada com «A Amiga Genial». Este «A História do Novo Nome» cuja acção se desenrola em volta da vida de duas personagens femininas, Lila e Lenù, não é mais do mesmo. Trata-se do amadurecimento natural das duas amigas numa Nápoles atrasada, dialectal, sofredora com domínios vários, entre os quais sobressai o domínio masculino, violento, machista, aceite por quase toda a sociedade do sul de Itália. Um país que mal saído da guerra e das suas misérias e destruições, encalha agora nas tradições seculares, familiares em que as principais vítimas são as mulheres. Os anos 60, neste sul muito particular, não se adivinha minimamente a chamada libertação feminista. Parece, por vezes e pela escrita de Elena Ferrante, que há uma reacção brutal a que isso aconteça, mesmo protagonizada por muitas mulheres.
Tanto Lenù, como Lila crescem, neste volume do livro. Com ele, assiste-se não só à descoberta do corpo e do sexo, do desejo também, mas igualmente à diferença social entre as várias personagens. A luta de classes do pós-guerra não é aqui esquecida, antes pelo contrário, todas as contradições são expostas claramente pela autora, entre a democracia cristã ganhadora e o forte partido comunista italiano, dividido em facções estalinistas, social-democratizantes ou trotsquistas.
Pouca mobilidade social existe aqui. O seu elevador funciona mal. A existir ou é pelo casamento (Lila) que se transforma numa cilada cruel, com espancamentos logo no seu dia inaugural, ou pela universidade (Lenù) e mesmo aqui, depara-se com um nepotismo e uma campânula social que bloqueia uma ascensão merecida. Mesmo quando inicia a publicação de um romance por uma conceituada editora milanesa é por interposta influência de uma professora universitária, mãe do seu namorado que também ele rapidamente sobe na carreira universitária como assistente, tal como a sua irmã e pai catedrático todos da Universidade de Pisa. Elena Ferrante, lembra-nos sempre que Lenù é oriunda de um bairro pobre de Nápoles, que esconde a sua origem no incómodo que sente quando a mãe a vai visitar à universidade onde se encontra doente ou quando esconde o seu dialecto napolitano. Essa contradição é vivida intensamente quando se aproxima das suas origens através de uma Lila caída em desgraça e tornada operária por sobrevivência.
Há, contudo, nos dois volumes que li até agora, uma questão incontornável e por vezes inquietante: a do comportamento da mulher. Elena Ferrante consegue entrar no âmago da psicologia feminina como eu não consegui ver até hoje em literatura contemporânea e muito menos quando são homens a tentar decifrá-la e escrevê-la. Lembro-me de algumas passagens de livros que agora me dão vontade de sorrir e pensar quão longe, alguns homens, estão de compreender atitudes de mulheres adolescentes ou mais maduras. Aviso-vos amigos: nem sempre o que parece é e o que se descreve, de um modo magistral, em simples encontros entre sexos já foi passado, vivido por nós todos. E dá-me ideia que pensámos tudo ao contrário... é esta a importância de Ferrante, uma observadora implacável de todo o comportamento humano em que nos vemos e revemos. É isto que faz a boa literatura.