Já a «Odisseia» é, contudo, diferente, embora eu acredite nos que defendem ter sido escrita pelo mesmo autor da «Ilíada», Homero, e com uma técnica de escrita cuja métrica os seus versos não escondem. Isso não impediria que houvesse igualmente uma tradição oral que tenha perpassado os anos. A «Odisseia» é de enredo menos imaginativo e talvez menos belo, mas ainda assim com recurso ao maravilhoso e ao mágico chamando os deuses que sofrem, que amam, que mentem e que tomam partido por este contra aquele. As personagens são menos densas psicologicamente, embora se realce a brutalidade da vingança de Ulisses, o crescimento rápido de Telémaco e a dúvida permanente de Penélope sobre a sua condição de mulher e de mãe. E, já agora, de raínha. As entrelinhas das duas obras não desmerecem no interesse do leitor, antes pelo contrário, incitam-no às releituras.
Uma palavra para Frederico Lourenço: excepcional tradutor e helenista (não temos assim tantos!) dá-nos pistas nas suas introduções e prefácios à «Ilíada» e à «Odisseia», mas se quiserem um conselho de amigo aos que as vão ler, iniciem as leituras das introduções e dos prefácios quando terminarem as leituras dos poemas. É que terão a oportunidade, após o fazerem, de concordarem ou não com o que é escrito e poderem comparar as vossas opiniões com as dos estudiosos dos clássicos. Podem fazer o mesmo com a «Hélade» de Maria Helena da Rocha Pereira.
Poderia agora ficar aqui a falar do enredo que já quase todos conhecem, mas lê-lo agora sem constrangimentos educativos é outra coisa.