Aurelino Costa, hoje, 21 de fevereiro de 2013, no Hotel Vermar, às 22:00, apresenta Domingo no Corpo. A apresentação vai ser assim:
A poesia de Aurelino
Costa enquadra-se num registo que se vem perdendo, paulatinamente, desde os
idos dos setenta e que assenta numa tradição do verso sonoro, da vogal aberta e
provocadora, da junção incoerente e oposta de palavras e de expressões que aduzem
surrealismos e abjeccionismos vários. Mas apor um ismo, por simples comodidade de catalogação literária, é um erro
que se deve evitar. Em Domingo no Corpo espraia-se o prazer
de um erotismo emergente numa ligação lógica à terra, onde subjaz a negação do nec otium latino, da obrigação do
trabalho e da rotina. A poesia de Aurelino
convida à crítica de costumes que lembra igualmente o escárnio, mas que, de
imediato, nos propõe a cantiga de amigo, do amor que assoma à porta, entre
ferros, plantas e pedras, sempre omnipresente.
Nunca, como agora esta poesia foi tão necessária. Porque
limpa, porque propõe, entre outras, «ressuscitar as cobras aos pés da santa»,
mexer nos sonhos que ainda nos faltam realizar, denunciar os visas que nos
tolhem os passos da vida e nos fazem «murchar a óptica em direcção à
esperança». Mas o poeta não esmorece na sua atitude irrequieta perante a vida,
quando se propõe inventar de novo a rua e ir para longe, sabendo que, numa
despedida anunciada, irá sempre «de volume em volume/despir este icebergue que
arde». Nas palavras verdadeiramente mágicas de Aurelino Costa. A Deriva marca,
de novo, um rumo traçado nesta poesia.
António Luís Catarino