Faz lembrar-me que a Charlie Hebdo foi condenada pelos tribunais franceses por caricaturas alegadamente ofensivas a Maomé. Os tribunais franceses, que fazem parte do Estado francês, que reiteradamente tem medidas discriminatórias para com cidadãos árabes e muçulmanos, é o mesmo que mostra este zelo pelos bons costumes e leva a tribunal Philippe Val sob a acusação de «injúria». Se isto não é um atentado à liberdade de expressão, que se chame já o Voltaire que deve estar aos pulos na tumba.
A obscenidade sentida na capa do Público de Quarta-feira: uma fotografia de dois esqueletos de 6000 anos abraçados e descobertos perto de Mantova, na Itália, com a legenda «abraçados para a eternidade». O jornalista descobre que «estão mesmo a abraçar-se»; que «são jovens»; que o par «deve ser de um homem e de uma mulher». Ninguém questionou que esse abraço acabou naquele mesmo momento em que foi registada na película de uma qualquer foto, à luz do dia.
Carlos Quiroga (reintegracionista e lusista) com António Cícero são entrevistados na Póvoa de Varzim por Paula Moura Pinheiro, no Câmara Clara, da RTP2. Choque e pavor: Quiroga (que se esforçava por aproximar a fala à expressão portuguesa) é absurdamente legendado. Poderia não saber, é certo. Mas, as vezes que António Cícero e Paula M. Pinheiro o interrogaram falando de Espanha (!!) sem um única objecção, sem uma única correcçãozita aos interlocutores por parte de Quiroga que, ademais, é galego. Registe-se...
O «SIM» ganhou. Estamos mais livres, mas não esqueceremos que se vive num país de rancores e de papistas. Depois da natural comoção, não desfaçam os movimentos criados que ainda há muito para fazer. Parece-me que aquela gente quer ver as mulheres condenadas de qualquer maneira. Bastam-lhes dez semanas e um dia. Ignóbil.
Amanhã, Os Mundos Separados que Partilhamos, de Paulo Kellerman vai para a tipografia. Hoje acabou-se a tradução de Future Primitive, de John Zerzan. O café sabe sempre bem, pela manhã.
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