quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Derivas de Fevereiro, 27 e 28 de Fevereiro no Auditório da Almeida Garrett no Porto. O programa

Desde há muito, senão desde sempre, a Escola resiste às novas expressões artísticas, venerando e valorizando um cânone, enquanto que, paradoxalmente, remete os clássicos para o ostracismo. Da modernidade, a escola filtra apenas o que lhe interessa criando unicamente o homo-automatus capaz, com dificuldade, de escrever um contrato, um requerimento ou um verbete. Os media cumprem o seu papel normalizador e reduzem a Escola a um mapa de fait-divers. A poesia, as expressões plásticas, a música, o teatro tornaram-se corpos estranhos à Escola. Coisas meramente decorativas e ao serviço de actividades de circunstância. Falta-lhe, à escola, fôlego e coerência, irreverência e criatividade. Contra o carácter redutor dos programas, propõe-se, agora mais que nunca, uma acção que vise a criação e uma deriva de liberdade que tenha em conta as capacidades e interesses humanos na Escola. Cidadãos autómatos ou autónomos? A literatura deve ou não fazer-se na escola? As bibliotecas escolares são um depósito de livros, professores e outros computadores? Os media como instância de socialização a par da Escola ou contra a Escola? Há lugar para novos criadores?


Sexta-feira, 27 de Fevereiro
9:45 – Entrega de documentação
10:00 – Abertura
10:30 – José António Gomes - Os Clássicos não são coisa do passado
11:00 – Paula CruzO desalinho na poesia que se dá a ler: o lugar dos poetas do séc. XX/XXI na escola
11:30 – Isabel SousaBibliotecas Públicas e a Língua Portuguesa - Para quê?
Debate
12:30 – Intervalo para almoço
14:30 – Luísa PortalTeatro Nacional de São João: 12 anos de experiência(s) com a(s) escola(s)
15:00 – António Tavares LopesFormas e formatações da expressão individual na Web
15:30 – Suzana RalhaMúsica, Poesia e Escola

16:00 – Emílio RemelheEntre o Modelo e o Novelo. A Escola como palimpsesto
Debate


Sábado, 28 de Fevereiro
10:30 – Rui Pereira(N)a Escola face aos Media
11:00 – Pedro EirasPara que serve a Literatura?
11:30 – Américo Lindeza DiogoConfiguração Arte-Escola-Humanismo. Relações entre Literacia e Arte. Usos da Literatura. Artes e Media
Debate
12:00 – Encerramento
12:30 – Distribuição dos Certificados de Presença

Apresentação de A Inexistência de Eva, de Filipa Leal. Porto, Casa do Livro às 18:30, Rua das Galerias de Paris, 85.

Na última apresentação de um livro da Filipa, «O Problema de Ser Norte», este acabou num microondas entre morangos e chantily, muito por culpa do João Gesta e da CGD. Comemos, igualmente, um bolo com a capa do livro. Sinceramente, não me atrevo a perguntar como esta apresentação de «A Inexistência de Eva» irá acabar, mas também sabemos que a Filipa faz anos por esta data, o que adensará ainda mais o eventual mistério.
Não há que enganar em relação ao espaço magnífico da Casa do Livro que é ali para os Clérigos. Não se esqueçam: às 18:30h. http://www.casadolivro.pt/index2.php . (A carta de vinhos é um pouco cara, mas dividindo até sai baratinho).


A apresentação caberá a Paula Cruz.


Fotografia da capa de Mafalda Capela

Gato Vadio: Contra as Correntes - As Principais correntes do Pensamento Contemporâneo, moderado por António Alves da Silva


Da Livraria Gato Vadio, recebemos informação desta iniciativa que não queremos deixar de divulgar. Atenção, que recebem inscrições.

Contra as Correntes
“As principais correntes do pensamento contemporâneo”

Não pensem que passámos a ser uma sala de estudo. A livraria Gato Vadio continua a dedicar-se sobretudo à vadiagem do pensamento e às suas formas de expressão. Propomos realizar um fórum livre dedicado às principais correntes do pensamento contemporâneo. Longe de ser exaustivo, a sua finalidade será fundamentalmente estimular e promover a pesquisa e a reflexão partilhada sobre as múltiplas perspectivas teóricas que contrariam o reducionismo empobrecedor do pensamento único (e dos vários fundamentalismos doutrinários), da monocultura massificada (induzida pela chamada cultura de massas que esvazia e anula a diversidade cultural das culturas populares), e do pretenso fim da história celebrado pelos arautos do neo-conservadorismo dominante.

Os encontros-sessões terão uma duração aproximada de 3 horas e realizar-se-ão aos Domingos (entre as 17h e as 20h), com excepção da 1ª sessão marcada para o último sábado de Fevereiro, dia 28.
«As principais correntes do pensamento contemporâneo»
Dinamizador: António Alves da Silva

1ª fase – 6 sessões mensais ( de Fevereiro a Julho de 2009)
Participação livre e gratuita mediante inscrição prévia
(Os interessados devem, preferencialmente, enviar um Email de confirmação com o nome e contacto electrónico para gatovadio.livraria@gmail.com ).

Mínimo de participantes: 10 pessoas
1ª sessão (dia 28 de Fevereiro, 17h) - Pensamento político – Fascismo, Liberalismo, Marxismo, Anarquismo, Feminismo e Ecologismo.
2ª sessão (Março) - Pensamento sociológico – do Funcionalismo à Etnometodologia, passando por Bourdieu, Max Weber, Ulrich Beck e Boaventura Sousa Santos
3ª sessão (Abril) - Pensamento económico – da Escola clássica à Neuro-economia, passando por Marx, teoria marginalista , Keynes e o institucionalismo
4ª sessão (Maio) - Pensamento jurídico e criminológico – da Teoria Pura do Direito ao Pluralismo jurídico, passando pela conceptualização dos direitos humanos e as problemáticas criminológicas
5ª sessão (Junho) – Pensamento literário – do cânone literário às literaturas de vanguarda, passando pela teoria e crítica literária, e pelas várias concepções de poética
6ª sessão (Julho) – Foucault – pensamento foucaultiano desde a filosofia e a concepção de poder, até à educação, e o uso recorrente das ferramentas conceptuais de um dos pensadores mais importantes do mundo contemporâneo.

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

A Inexistência de Eva, último livro de Filipa Leal já disponível.

Capa sobre fotografia de Mafalda Capela


A Inexistência de Eva é o último livro de poemas de Filipa Leal, editado pela Deriva. Dentro em pouco disponível nas livrarias, mas poder-se-á, desde já, encomendar pelo site.

Na sexta-feira, dia 13 de Fevereiro, a autora estará presente nas Correntes d' Escritas, Póvoa de Varzim, onde fará o lançamento do livro. Depois, será o Porto e Lisboa. Como sempre e com a qualidade de escrita e simpatia a que esta autora já nos habituou. Um abraço para ela, agora lá longe, em Lisboa.

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Vírus nº5, Janeiro/Fevereiro de 2009


http://www.esquerda.net/virus/media/virus5.pdf

Nesta edição da Vírus nº5, «a revista que só se apanha na net!»:
um conto de Pedro Eiras: «Concurso»
João Teixeira Lopes
Hugo Dias
Mariana Aiveca
Fernando Rosas
Luís Fazenda
José Soeiro (a ler, a ler...)
...entre outros.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Derivas de Fevereiro - inscrições abertas

Já nos encontramos a aceitar inscrições. Vamos fazer destas derivas uma operação higiénica contra a dita avaliação - ou seja, nem vamos falar dela... mas por que não falarmos de programas, de criatividade e de motivação para o ensino?
Vamos conversar todos, na Almeida Garrett e a 27 e 28 de Fev., com José António Gomes, Paula Cruz, Isabel Sousa, Luísa Portal, António Tavares Lopes, Emílio Remelhe, Rui Pereira, Suzana Ralha, Pedro Eiras e Américo Lindeza Diogo.

Discurso de Capitulação (um tanto romanceado), por Inês Silva


O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos a ratos

Alexandre O'Neill


Pois, assim é, lamentavelmente chegou a minha vez de chegar «a rato»: entreguei os OI simplex. Sonhei, como o extraordinário Vicente de Torga, poder recusar a degradação da barca da obediência envergonhada a um poder superior que humilha os seus "servos", e como ele «Escolhera a liberdade, e aceitara desde esse momento todas as consequências da opção.». Por isso, esperava tranquilamente as consequências previstas: ficar mais dois anos sem subir na carreira, ver colegas do mesmo grupo que tivessem obtido o Muito Bom ou Excelente passar à minha frente nos concursos; não seriam de miséria as minhas finanças, não seriam assim tantos os colegas que me ultrapassariam. O que mudou:Ontem, uma colega contou-me que a presidente da escola andava a ameaçar com procedimentos disciplinares, mostrando-lhe o seguinte, sublinhado:


Lei n.º 58/2008, de 9 de Setembro
Estatuto Disciplinar dos Trabalhadores Que Exercem Funções Públicas
Artigo 17.ºSuspensão
A pena de suspensão é aplicável aos trabalhadores que actuem com grave negligência ou com grave desinteresse pelo cumprimento dos deveres funcionais e àqueles cujos comportamentos atentem gravemente contra a dignidade e o prestígio da função, nomeadamente quando:....
g) Desobedeçam escandalosamente, ou perante o público e em lugar aberto ao mesmo, às ordens superiores;
i) Violem os procedimentos da avaliação do desempenho, incluindo a aposição de datas sem correspondência.....

Depois li no Expresso que o presidente do CE tinha comunicado a uma colega que os dois anos não só não lhe seriam contados para efeitos de progressão (entenda-se, subida de escalão) como não contariam para tudo o mais, ou seja, perderia dois anos de serviço, com consequências devastadoras na graduação, arriscando-se a ver passar à frente centenas de colegas, ou mesmo milhares, num grupo como o meu, e a ficar numa posição muito delicada.Entretanto, o meu algo surdo pai, com tanta conversa telefónica sobre as consequências e os cenários mais dramáticos, assim como a vontade de manter a coluna vertebral erguida, apercebeu-se finalmente do que eu estava a pensar fazer, olhou para mim, com a sua respeitável cara de 82 anos, perguntando-me silenciosamente: «Vais arriscar a casa que foi construída pelas minhas mãos, onde nasceste, que te dei para que a recuperasses e mantivesses na família, por orgulho?». Não creio que fosse para tanto, mesmo com a suspensão, sempre me aguentaria uns tempos. Mas senti que não tinha o direito de pôr, nem que fosse numa hipótese muito remota, em causa o seu bem estar, o tecto a que tem direito, porque, na verdade, a casa financeiramente é do banco, moralmente é dele, eu só tenho uma dívida de cem mil euros. Afinal também tenho laços que me prendem a responsabilidades. E eu queria ser radicalmente livre como Vicente, sem amarras. Ao contrário do impressionante conto de Torga, em que a tenacidade de Vicente venceu a vontade de Deus - «Mas em breve se tornou evidente que o Senhor ia ceder. Que nada podia contra àquela vontade inabalável de ser livre.» -, as últimas notícias do meu "Deus" eram cada vez mais preocupantes. Fui eu, portanto, a ceder e a juntar-me a vós nessa barca do desalento. Entreguei hoje os OI individuais ao Carlos, que a bem da verdade já me tinha tentado alertar para as consequências e, generosamente, os aceitou. É mais um espírito que se verga «Neste país do pouco» (Manuel Alegre). E eu que queria ser o "tu" da Sophia («Porque os outros têm medo mas tu não», lembram-se?), que queria gritar:


Que não é possível suportar tanta mentira
tanta gente de esquerda a viver à direita
tanta apagada e vil baixeza tanta reza
tanto cochicho onde é preciso falar alto.
Neste país a salto. Neste país a salto.

(...)

Pois falta aqui o verbo ser. E sobra o ter.
Falta a sobra e sobra a falta. Ó proletários da tristeza
falta a ciência mais exacta: a poesia.
E há muito já que um poeta disse : É a Hora.
Neste país de aqui. Neste país de agora.
Manuel Alegre, «PAÍS EM inho»


Deu-me o destino a culpa de ter uma memória literária cheia de ética e de valores lá dentro. O meu index da vergonha vai ser enorme: tantas palavras literariamente impressivas e eticamente elevadas me vão fazer sentir a última das criaturas se ousar lê-las com os alunos. Só escamoteando drasticamente o meu cânone do gosto e escolar é que poderia fugir à confrontação. Não mais Camões, não mais Eça, não mais Pessoa, não mais Saramago, não mais Cesariny, não mais Maria Velho da Costa, não mais Ruy Belo, não mais José Cardoso Pires, não mais Herberto, não mais Ruben A, não mais Nuno Bragança, não mais... Não mais tanta da "gente lá de casa"... E nem assim, as palavras silenciadas estarão sempre na minha memória. Que país é este que nos obriga à cobardia? Que homens somos que não encontramos nenhum 25 de Abril por dentro de nós quando é preciso resistir? Eu sei que:


O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente

Gente que seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente

Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente

Gente que enterre o dente
que fira de unhas e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente

O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente

Ana Hatherly

Não fui capaz. Desculpem por me trair, por, de alguma forma, vos trair. Em anexo mando-vos a declaração que entreguei juntamente com os OI, para que fosse entregue à Tutela. Eu sei que não serve para nada. Mas pelo menos aquilo tinha de dizer, um pouco como o balbucio de Galileu quando abjurou («Et por se muove»), apenas como reafirmação das convicções, vazias já porque se capitulou. E não se preocupem, tenho Olcadil para dormir. Desta vez preveni-me. Até para a semana.

Inês Silva