Éditions Gallimard, 2024
Trata-se do último livro de Christian Bobin antes de falecer, em Novembro de 2022, no Hospital de Chalon-sur-Saône, após doença prolongada. A sua obra é muito extensa mas, do que li dele acho-a muito interessante. Volto a ele, muitas vezes. Quando comprei «Le Murmure», na Payot de Lausanne, nem sequer sabia que ele tinha morrido. Foi o livro que mo revelou, porque o autor avisou ao que ia. Penso que esta edição foi póstuma. De qualquer modo não transparece nela laivos de angústia, medo ou inquietude. Provavelmente, a paz que precede a morte num católico como Christian Bobin. Afirma o seu apego à natureza, às árvores, às nuvens e aos pássaros; aos seus cantos, e principalmente ao silêncio absoluto como forma de atingir um estado-outro, num mundo que já se identifica muito pouco com o pensamento ou com a introspecção. Por coincidência, o mesmo mote que Pascal Quignard deu no seu «L'Homme aux trois Lettres». Durante a sua leitura vi-me obrigado a procurar, na net, o piano de Sokolov interpretando Mozart, Chopin e Bach, várias vezes referido por Bobin, aqui não escondendo já alguma saudade, pela impossibilidade de ir vê-lo num concerto. Ouvi-o enquanto caminhava. Nas suas páginas iniciais, confessa-nos um pedido: «Se este livro deverá ser o último, então é necessário que ele seja o mais jovem de todos os que escrevi.» Talvez o tenha conseguido.
«Espero diante de uma mesa vazia. Sonhar é estar em silêncio. Este sulco de silêncio nos meus lábios é a minha grande viagem. É necessário que em cada momento use e esgote tudo o que possuo para voltar a ser novo. A cada momento. Escrevo para me juntar a vós, meus irmãos e irmãs do mundo analfabeto do sonho, de um sonho que deve tudo ao Monte Branco do coração, pico mais alto das nossas vidas.» (pág.18). Tradução livre.
Deixa-nos igualmente um aviso de amigo:
«Os falsários da poesia são os tolos da escrita. São os nossos piores inimigos. E não falo dos maus poetas. Não: falo daqueles que se apropriam do poeta para melhor servir o mundo. Esta época multiplica-os.» (pág.26)
«O silêncio da noite era tão puro que acordei para o compreender.» (pág.79)
«A poesia não suporta a menor injustiça. Não publiquem mais, interditem e sancionem todo o pensamento pessoal, não impedirão nunca novas catacumbas, refúgios de almas simples e puras, de serem mais iluminadas que o mais rico dos palácios.» (pág.105)
«Encontrem-me algo de mais belo que a escrita, cambada de cães!» (pág.105)
alc