domingo, abril 29, 2007

Comunicado acerca dos acontecimentos na Praça da Figueira a 25 de Abril

Sobre a repressão de manifestantes na Praça da Figueira, no dia 25 de Abril, que se intitulavam antifascistas e anti-capitalistas recebemos o comunicado que transcrevemos na íntegra não sem antes dizer claramente que estranhamos o desvelo profissional com que a polícia de intervenção bate em quem abre a boca contra a extrema-direita e luta abertamente contra o crescimento da arrogância fascista. Também não nos é indiferente o facto de tentarmos, sem êxito, aceder ao site do Indymedia português, para recolher algumas imagens. Que se passa com este site?
Comunicado sobre a manifestação anti-autoritária contra o fascismo e o capitalismo.
«Com o intuito de protestar contra a crescente visibilidade da extrema-direita e a sua componente racista e xenófoba, contra a cada vez maior exploração capitalista, contra a precariedade social imposta pelo capitalismo, contra o crescente totalitarismo democrático, pela liberdade, solidariedade e dignidade humana, por um mundo sem fronteiras uma plataforma de grupos e indivíduos de várias tendências anti autoritárias, anarquistas, anti capitalistas e antifascistas convocou para o dia 25 de Abril pelas 18:00H na praça da figueira uma manifestação anti autoritária.
A manifestação reuniu cerca de 400 pessoas que percorreram o Rossio, a Rua do Carmo e a Rua Garrett até ao Largo de Camões num ambiente contestatário mas festivo e sem incidentes. Muitos transeuntes aplaudiram e aderiram à manifestação. Após um breve período em que a manifestação permaneceu no largo Camões esta continuou espontaneamente pela Rua Garrett em direcção ao Rossio.A meio da Rua do Carmo, duas hordas de elementos do corpo de intervenção da PSP encurralaram os manifestantes na rua fechando as saídas e sem qualquer ordem ou aviso de dispersão começaram a agredir brutal e indiscriminadamente manifestantes, transeuntes e até mesmo turistas.Com isto a polícia não tentou dispersar ninguém, mas por outro lado quis bater, espancar e atacar os manifestantes. Pessoas que caíram no chão indefesas foram ainda agredidas por vários polícias à bastonada e ao pontapé. Aqueles que tentaram fugir foram perseguidas por toda a baixa e muitos transeuntes e lojistas somaram-se aos manifestantes no fundo da Rua do Carmo em protesto contra a brutalidade policial. As únicas agressões à polícia foram em legítima defesa, que é um direito ao qual não renunciamos.Foram detidas doze pessoas de forma bastante violenta e é impossível contabilizar todos os feridos entre manifestantes e pessoas alheias ao protesto. Foi mobilizado um aparato policial desmedido (dezenas de carrinhas do corpo de intervenção da PSP com certamente mais de uma centena de elementos) que impôs o terror na baixa de Lisboa por várias horasUm grupo de indivíduos que se queria juntar à manifestação e que tinha ficado para trás foi cercado e escoltado até ao cais do sodré (possivelmente pela sua cor de pele).Os detidos foram levados para a esquadra da 1ª divisão da PSP na Rua Gomes Freire onde foi negada qualquer informação aos seus amigos e durante muito tempo foi impedida a entrada aos advogados. Houve uma tentativa de levar os detidos a constituírem-se arguidos sem a presença dos advogados o que é ilegal.
Em solidariedade com os detidos cerca de 50 pessoas concentraram-se em frente à esquadra aguardando a sua transferência para os calabouços do comando da PSP de Lisboa. Mesmo em frente à esquadra a polícia continuou com o abuso de poder e expulsou as pessoas aos empurrões impedindo que estas pudessem continuar a demonstrar a sua solidariedadeO que tem vindo a ser noticiado nos variados órgãos de comunicação social está repleto de incoerências e desvios daquilo que realmente aconteceu na baixa de Lisboa. Nomeadamente, a confusão com outras manifestações, a aceitação da versão policial dos acontecimentos e a necessidade de caracterizar como ilegal uma característica natural das pessoas que é o ajuntamento e a manifestação, que a democracia diz defender. Num período em que foram muitos os ajuntamentos, manifestações, acções e encontros este era também um protesto de repúdio aos tempos que se vivem e aos ataques constantes do poder às pessoas.Caricatamente é no dia 25 de Abril que a polícia defende cartazes de partidos fascistas e ataca manifestações antifascistas.Num momento em que já se sabia que os cravos estão murchos todos estes acontecimentos servem para o reconfirmar.Plataforma antiautoritária contra o fascismo e o capitalismo.»

Culturgal, Feira do Livro e da Indústria Cultural, em Pontevedra. De 10 a 13 de Maio

De Manuel Bragado (responsável da Xerais de Galicia e do blog Bretemas) recebemos, com pedido de divulgação, a notícia de uma Feira do Livro e da Indústria Cultural em Pontevedra entre 10 a 13 de Maio. O programa (muito bom) é convidativo a um fim-de-semana na Galiza, juntando o útil ao agradável.
O evento denomina-se Culturgal e podem consultar o programa e mais informações aqui.

quinta-feira, abril 26, 2007

Hoje, dia 27 de Abril, João Pedro Mésseder presente no Fórum Cultural José Manuel Figueiredo (Moita)

João Pedro Mésseder inicia hoje, na Moita, a viagem de apresentação de Meridionais que o levará ao Sul. Évora, Montemor, Aviz e Barreiro são algumas das cidades já confirmadas onde estará presente e sempre nas suas bibliotecas (a seu tempo diremos as datas). O Porto, não tão ao sul é certo, mas também a sul de algum norte, terá apresentação no Clube Literário a 18 de Maio, pelas 21:00.

Hoje, dia 27, será no Centro Cultural José Manuel Figueiredo, na Baixa da Banheira (um dos pólos da Biblioteca da Moita, pelas 21:30) onde apresentará Meridionais.

Autoridade, Gliese 581c e outras notas

Ainda sobre o já anunciado aumento da autoridade dos professores na escola, chega-me às mãos uma notícia inquietante: todos os partidos parlamentares votaram esta lei favoravelmente, à excepção do PC. Será que só este partido vê a autêntica bomba que constitui colocar nas mãos de professores a gestão da «justiça» numa escola? Ao mesmo tempo que os preparam para a «violência» com acções de formação para o efeito? Mas está tudo doido?

«Obscuro». Eu, que só abro de tempos a tempos a caixa do mail para os anónimos. E é ele, o luminoso anónimo que me chama obscuro. Gosto. Como gosto que os italianos chamem «sinistra» à esquerda. Manias.

O espaço sempre me fascinou. Falo do sol, de estrelas e de planetas como quem parte e vem logo dali a nada. Existir uma super-Terra, com água líquida e temperaturas variáveis entre os 0 e os 40 graus, faz-me pensar partir para uma qualquer colónia, numa qualquer nave, para Gliese 581c. À velocidade da luz levaríamos (dizem eles, os tais da nasa) 20 anos a navegar. Nada que impeça a prática salutar da deriva.

Abro o Público no dia 25 de Abril. Deparo-me, na mesma página (a 8 da P2) com um título e uma notinha: «Em Portugal, para bater nas mulheres chamam-se as skingirls» do tal António Salas que afirma que os skins tugas são dos mais cultos da Europa; depois, a notinha: O P2 viajou a convite da Dom Quixote.

Não consigo estar muito tempo à volta do Deriva das Palavras. Muito tempo, não.

A próxima Mealibra vai publicar a intervenção de Fernando Venâncio no Clube Literário do Porto sobra a obra de Paulo Kellerman. Gostei.

Vicente Romano editado de novo pela Deriva

A Intoxicação Linguística - O uso Perverso da Língua é o novo livro de Vicente Romano que vai ser publicado, em breve, pela Deriva. O uso da língua sob o ponto de vista ideológico, mesmo escondido pelo manto supostamente neutral da linguagem e da comunicação oral (já não falando dos media) é tratado pelo autor de uma forma que já nos habituou em A Formação da Mentalidade Submissa: não fazendo cedências ao poder, chamando as coisas pelos nomes, enfrentando a complexidade da política, da economia e das lutas sociais actuais e utilizando uma linguagem e ideias de uma assinalável clareza e concisão.
A capa que vemos é da edição espanhola de El Viejo Topo.

quarta-feira, abril 25, 2007

Bando dos Gambozinos musica Romance do 25 de Abril

Já sei que vou gostar, porque até fui dos poucos privilegiados que assistiram ao ensaio-geral, o que me deixou uma impressão estranha na garganta. A Suzana Ralha e o seu Bando dos Gambozinos musicou O Romance do 25 de Abril de João Pedro Mésseder e ilustrado por Alex Gozblau. É hoje às 18:30 e 21:30, na Biblioteca Almeida Garrett, e vai estar muita gente. Arrisco a ir meia-hora antes e dar a conhecer a amigos (alguns mais pequenos) uma obra belíssima. Uma ópera livre.

terça-feira, abril 24, 2007

Meridionais, de João Pedro Mésseder. Nas livrarias.

Já se encontra à venda nas livrarias, Meridionais, último livro de poesia de João Pedro Mésseder. Uma viagem ao sul numa rota muito marcada pelo sol, pelos seus homens e mulheres, pela luz e pelo azul do céu e do mar.


A apresentação e encontro com os seus leitores, aqui no Porto será a 18 de Maio, no Clube Literário, pelas 21:30, com Paula Cruz.


Nesta sexta, a 27 de Abril, será na Biblioteca da Moita, pelas 21:30. A 28, no Seixal. Depois, uma viagem anunciada às bibliotecas do Barreiro, Évora, Aviz e Montemor.

A nasaficação do Sol e outras notas

Emil V. Abrahamian
Luís Oliveira, da Antígona, opõe-se (de uma forma clara e mais que coerente, diga-se desde já) contra a organização das Feiras do Livro que, mais do que efectuar a necessária mudança, continuam numa vertigem de auto-destruição protagonizada na luta entre a APEL e UEP. Já vai faltando paciência para isto.

Ninguém me convence de que o Massacre da Virgínia a que assistimos (literalmente, como vai sendo hábito) nada tem a ver com a escola ou, mais concretamente, com o fim da escola. A cultura de morte ocidental e a sociedade cada vez menos hedonista (não é só o oriente que padecerá deste mal) é promovida pelo «sucesso» do lucro e do consumo. Logo, do vazio. Junta-se a isto uma escola sem liberdade, sem criação, destruída, repressora e com uma ausência total de afectos e pode-se ter, em qualquer lugar do mundo, uma explosão daquelas. Percebe-se por que razão as análises tão abundantes nestas ocasiões se calem de imediato quando se trata de analisar a escola que temos.

Por essas (e outras) ordens de razões, não me convence mesmo nada o anunciado aumento da «autoridade» dos professores na escola portuguesa.

O Sol foi esta semana apresentado em três dimensões pela sempre eterna Nasa. Pede-se que parem com os poemas em seu louvor, por favor.

domingo, abril 15, 2007

Paulo Kellerman no Clube Literário do Porto, apresentado por Fernando Venâncio: dia 20, sexta, pelas 18:00.

É muito simples para quem quiser lá ir. A Rua Nova da Alfândega é na Ribeira, ao número 22, ali junto ao rio (Douro, claro está!). A pé, vai-se para a baixa do Porto; há autocarros e metro. De carro, também não há espiga: estaciona-se nos parques da Ribeira (há dois) ou na Praça D. João I (os estacionamentos da Ribeira são mais baratinhos) e depois vai-se a pé, calmamente, para os lados da Igreja de S. Francisco. Entra-se no Clube Literário e, depois de dar uma vista de olhos pelos livros expostos, sobe-se ao 2º andar. Atenção que há um bar simpático a meio e convém não ficar lá muito tempo! Depois de ouvir o Paulo Kellerman e o Fernando Venâncio a falarem dos livros podem, perfeitamente e sem qualquer rebuço, vaguearem, à deriva, pela Ribeira e jantar por lá. Com sorte, ficam para toda a noite. Até já, portanto!

Já não há milfolhas à 6ª

Ou muito me engano ou substituindo o Milfolhas pelo Ípsilon e o , pelo NS (ou lá o que é) estão a dar uma machadada na crítica de livros. A coisa promete: já pouco se fala de livros na Actual, do Expresso. Resta-nos o Das Artes e das Letras no Primeiro de Janeiro, à segunda-feira. E de outros jornais, nem falar...que não vale a pena. O espaço, para eles, os livros, é cada vez menor, nos jornais diários. Ficarão nos escaparates as revistas «especializadas» em livros? Nada que não esperassemos já, mas não poderiam avisar, ao menos, os incautos que vão comprar jornais a pensar no suplemento daquele dia específico e se deparam com nada? Ou a coisa tem a ver com sectarismos impossíveis de ultrapassar? Estamos perante um novo fundamentalismo? O da imagem? Ou de algumas, putativas, ideias?
Imagem de Regina Moeller

sexta-feira, abril 13, 2007

Poemas inéditos de Filipa Leal na Mealibra. A intervenção de Nuno Júdice na Fnac/Chiado

É a Mealibra nº 20 (Inverno 2006/2007) e a Filipa Leal, uma das poetas convidadas. Lemos dois inéditos seus e a intervenção que Nuno Júdice fez na Fnac do Chiado quando se apresentou A Cidade Líquida e Outras Texturas, em Lisboa. O desenho da capa é de Cruzeiro Seixas. Estão lá (entre muitos outros) e todos com inéditos: Teresa Rita Lopes, Gonçalo M. Tavares, Natália Correia, José Gomes Ferreira, Maria Teresa Horta, Yvette Centeno, Joana Ruas, Pedro Teixeira Neves, Paulo Moreiras, António Ramos Rosa, Nuno Júdice, Vergílio Alberto Vieira, Maria do Rosário Pedreira e Cristina Robalo Cordeiro. Perceberam porque se deve ter a revista?

Jacques Rancière, ontem, em Serralves

Até que estava muita, muita gente. Auditório completo o que fez os retardatários (como eu, em somente 5 minutitos) ter de ouvir a conferência no foyer. Tradução simultânea, sim, mas um facto sobressaltou o comum dos mortais que lá foram ouvir Jacques Rancière: toda a comunicação deste filósofo foi em inglês. Mesmo as perguntas que lhe eram dirigidas na sua língua eram respondidas teimosamente em inglês. O que tornou hilariante a tradução simultânea. Será que Jacques Rancière se exprimirá melhor na cultura anglo-saxónica?

Jacques Rancière estava acompanhado por Oliveira Martins que se esforçou por aprofundar a «questão democrática»: começou pelas greves contra as reformas da administração pública. Grande aprofundamento, sim senhor! Para continuar e teimar com este regime sustentado pelos «n' importe qui». Repetiu esta afirmação cinco vezes. Os «n' importe qui»! Teremos revelação sociológica pela certa em próximas páginas do Público!

Guy Debord e Marx foram as almas errantes da comunicação de JR e do período das perguntas-respostas. O primeiro, um nostálgico de esquerda (!!) que não trazia consigo a solução dos problemas sociais já que, segundo ele, o espectáculo é indissociável da própria sociedade. Marx, porque foi recuperado logo em 1917! Fica-nos a luta pela democracia e pela igualdade como uma revisitação moderna do comunismo, questão já exposta no Ódio à Democracia, publicado muito recentemente pela Mareantes Editora. O que nunca é explicado convenientemente por estes arautos da sociologia é que a Sociedade do Espectáculo de Debord é, também, o desequilíbrio das relações de produção bem expressas no valor de uso e no valor de troca das mercadorias; ora isto é de Marx e do Capital (tanto como é de Debord) como muito bem sabemos. Porquê teimar sempre na sociedade do espectáculo como «coreografia do poder», «circo mediático» ou outra coisa qualquer? A não existir alternativa, fiquemos, então, pela miséria da filosofia...

De resto, António Guerreiro e Serralves estão de parabéns pela ideia e organização destes Ciclos de Política. O próximo é a 3 de Maio com o alemão Peter Sloterdijk com o tema "A técnica na sua relação com o humano". As entrevistas deste filósofo com Carlos Oliveira estão publicadas pela Fenda.

segunda-feira, abril 09, 2007

Filipa Leal na Biblioteca de S.J. da Madeira a 11 de Abril, Quarta-feira, às 21:00

A Filipa vai estar na Biblioteca de São João da Madeira com o seu livro A Cidade Líquida e outras Texturas numa biblioteca já conhecida pelo seu interesse na divulgação de poetas e escritores contemporâneos. Vai ser a 11 de Abril, pelas 21:00. Sempre com salas cheias as pessoas que frequentam estas iniciativas promovidas pela biblioteca tornaram-se numa verdadeira comunidade de leitores, sempre atenta e genuinamente interessada pelos autores que a visitam. Um exemplo a seguir com atenção. Pode consultar o programa aqui.

Gémeo Luís na Feira do Livro Infantil de Bolonha

Gémeo Luís é um dos três ilustradores portugueses que vai estar presente na Feira do Livro Infantil de Bolonha que se realizará entre 24 e 27 de Abril de 2007. Os outros ilustradores são Teresa Lima e André Carvalho.
«A Feira do Livro Infantil de Bolonha é o certame internacional mais importante destinado a profissionais do livro para a infância e juventude. Desde 1967 que realiza a exposição de um conjunto de obras de ilustradores de todo o mundo, seleccionadas por um Júri composto anualmente, cujos elementos são escolhidos entre personalidades de prestígio do mundo da edição, da arte, do design, da ilustração, de escolas de artes ou mesmo de museus de todo o mundo. Para a mostra de 2007, o Júri era constituído pelos ilustradores Lisbeth Zwerger e Katsumi Komogata, por Jeffrey Garrett, bibliotecário e especialista em literatura infantil, e Fausta Orecchio, designer gráfica e editora» (do site do IPLB)

Notas renováveis

Claude Lacroix

Paulo da Costa Domingos no seu já muito citado blog da frenesi e sobre a extrema-direita portuga pede desculpa aos mais novos pela não erradicação total de gente que teima em pôr-se em bicos de pés num país de dirigentes medíocres, ignorantes e cada vez mais boçais (por acaso, parecidos com eles, os originais). Mas PCD foi brilhante ao socorrer-se de Ésquilo e de uma frase de Prometeu Agrilhoado: «não constitui vexame pelo inimigo ser tratado da maneira como se tratam, sempre, os inimigos». Os clássicos ainda nos dão muitas lições. Para bom entendedor...


Zé O, da Mareantes Editora, editou o Ódio à Democracia de Jacques Rancière. E é este autor que vem a Serralves , aqui no Porto, já no dia 12 de Abril, no ciclo de política organizado por António Guerreiro. Às 21:30, no auditório e a entrada são 5 euritos. Vale a pena ir e é bom verificar que um museu como Serralves não delimita e separa a política da arte que o mesmo é dizer, bem-vindos à arte total.


Soube, pelo blog Sismógrafo (importante a sua consulta) de Diogo M.D., que a filmografia de Guy Débord vai estar disponível na Culturgest entre 13 e 14 de Abril. Para além dos filmes do autor d’ A Sociedade do Espectáculo e membro da Internacional Situacionista, será ainda exibido no sábado o filme letrista L’Anti-concept de Gil J. Wolman, de 1952. O programa completo e um texto sobre a obra de Guy Debord podem ser consultados no site da Culturgest. O que nos deixa tramados é o facto desta filmografia essencial para os que cultivam o espírito da recusa e da insubmissão não viaje até ao Porto. Ou a culturgest já pensou nisso e não nos diz nada?

quinta-feira, abril 05, 2007

Paula Cruz entrevista João Pedro Mésseder a propósito de Meridionais (a sair já este mês)

A convite do Deriva das Palavras e a propósito da saída (já neste mês) do livro de poesia «Meridionais», Paula Cruz entrevistou João Pedro Mésseder. Aqui fica:

PC. É à matriz grega que devemos os ideais éticos e estéticos que norteiam a nossa (in)civilização. Se em «Abrasivas» tínhamos o Oriente, aqui, em «Meridionais», temos o sul e o sol. Um sol, às vezes, abrasivo…
Em «Meridionais» não há excessos, há uma estratégia de redução e contenção, que a meu ver se afasta dos haikai e se aproxima da tradição «meridional» do epigrama. Concorda?

JPM. Embora o haiku seja um género que sempre me atraiu e, em «Meridionais», figurem textos que dele se podem aproximar pela brevidade, também é certo que as estruturas interna e externa dessa forma breve estão ausentes. É admissível que alguns textos bebam numa tradição mediterrânica (Grécia, Roma…) que cultivou, também ela, a forma breve e se deixou seduzir por um impulso gnómico que se exprime em muito poucas palavras.

PC. Em «Meridionais» temos uma poética desajectivada, pontuada, apenas, por notas de um azul grego e da brancura da cal. Poderemos falar na sedução/tentação do silêncio?

JPM. É porventura uma obsessão. O silêncio é o espaço de todos os sentidos, de todos os possíveis. Talvez por isso, tenha escrito um dia: «O silêncio vive numa casa onde a música entra quase sem pedir licença.»
Por outro lado, existe a atracção por um mito. Um mito literário, que é o sul, e que no caso português se alimenta também da ideia de planície, do «plaino abandonado», que pode ser um modo de figurar o próprio silêncio. Mas a imagem da planície, como o silêncio, é sempre tensa. Como se algo estivesse à beira de acontecer, de explodir.
Também estamos, como disse, a falar de um mito. Pois que outra coisa pode ser o que não passa de um norte, para os que a sul desse «sul» habitam? É como se o sul, aqui, fosse por vezes um «desnorte». Não obstante a condição de artefacto de linguagem que é própria de qualquer texto de intenção literária, a escrita enraíza-se em obsessões, experiências pessoais. Para alguém que acredita viver numa cidade setentrional (mesmo que isto soe um pouco estúpido), essas obsessões e experiências prendem-se com cenários e gente. Em «Meridionais», os cenários da escrita remetem para outros, esses reais: Grécia, Mediterrâneo, Alentejo (e os alentejanos é claro)…


PC. Não há leituras inocentes, nem leitores virgens. Ler «Meridionais» depois da Sophia helénica e do sabor do sal/cal de Eugénio, tem um sabor diferente. É uma filiação assumida, consciente?
JPM.
Eu diria que é antes a inscrição numa cultura, numa tradição – ou numa parte dela – a que me não posso furtar sendo o que sou, tendo nascido onde nasci, tendo lido o que li.
Há, por outro lado, uma viagem que continuo a fazer, desde que visitei, pela primeira vez, a Grécia, em 1975, país a que regressei, em duas ocasiões, mais de vinte anos depois. A terceira visita fixou-se em Creta. A Grécia não é apenas um país, é um dos lugares onde, porventura, os deuses estiveram mais vivos; e é tudo o resto que sabemos e que ecoa em nós, quase em permanência. Por isso, mesmo não estando eu lá, a Grécia continua a sua viagem dentro de mim. A Grécia, além disso, é Cavafy, Kazantzakis, Odysseus Elitis, Yannis Ritsos, Seferis e os clássicos. E é também Sophia, claro.

PC. Duas geografias, dois cadernos, Grécia e Alentejo, no entanto, o mesmo olhar distanciado, não participante, contemplativo, mas nunca passivo, nem ausente: há um «dizer» de fora que parece querer, não interferindo no real, dar-lhe um outro ângulo. Podemos falar de uma paisagem sã, quando desabitada (ou apenas quando habitada pela sombra dos deuses)?

JPM. O ponto de partida do segundo caderno (que tem sobretudo o Alentejo como horizonte) foi quase todo anterior a «Abrasivas». O de chegada quase todo posterior. Porque, embora alguns textos, os mais antigos, tenham sido redigidos há mais de vinte anos, o livro, em grande parte, foi reescrito. E, nesse processo de reescrita, alguma coisa fez com que o resultado final, aqui e acolá, se aproximasse de «Abrasivas», o meu livro de aforismos (e não só) que assumem a forma de prosas mínimas. Grande parte dos textos de «Meridionais» tem algo de fragmentário, são fragmentos em prosa também (e muita da poesia grega antiga que chegou até nós chegou sob a forma de fragmento, como a de Safo).
O Alentejo é um país, não é uma província. É onde gostaria de viver. Certas cores, cheiros, sabores que não vou dizer aqui, para não resvalar para o «cliché» turístico, como já estou a fazer. O que o Alentejo é está dito no livro. Plaino e música. Um punhado de palavras. Mas é também uma paisagem povoada. De pessoas e ou de sombras. Sobretudo os camponeses ou o que deles resta neste tempo de ruínas. O Alentejo é a mulher e o homem verticais, um clamor ecoando na planície. Cenário por excelência da Revolução. Da Revolução falhada, é certo, mas que existiu como tal e, enquanto existiu, instaurou uma outra dimensão do tempo que, para mim, ficou inscrita na paisagem. E a palavra revolução é daquelas que «vão morrendo com os anos», como se diz num dos textos. Ou melhor: que alguns vão fazendo os possíveis para que morra, de morte lenta ou, se as circunstâncias o permitirem, súbita.
Reconheço, por outro lado, que no primeiro caderno se respira uma certa nostalgia do divino (o divino grego) e uma busca do seu eco num cenário umas vezes devastado, outras vezes deixando entrever uma que outra vibração ou música que quase não logra desprender-se de certas ruínas, de uma ilha, de uma montanha ou de uma simples oliveira antiquíssima.

PC. «Domingo em Nisa» é também Cesário e Nobre («Georges! anda ver meu país de romarias E procissões»). É um texto de uma crueldade atroz, porque é uma polaroid de uma certa forma de ser Portugal. É o mostrar de um Portugal «abrasivo» – «o sol golpeia o ar» –, sem a limpidez grega («imundos de poeira»). O cheiro do fumeiro, do suor, a soneira e as cólicas: a noiva branca, os convidados «barbeados e bovinos» e os «absurdos / longos vestidos de noite para um evento diurno».
Um texto de desencanto, uma nota, cronística, de um certo Portugal rural ou uma crítica a um país que parece não saber ser meridional?

JPM. Não resisti a recriar essa cena um pouco cruel, embora goste muito de Nisa, uma vila muito bonita. Concordo com quase tudo o que diz (e, à medida que os anos passam, cada vez gosto mais do Cesário e do Nobre…). Contudo, o ser meridional também passa por esse carácter um pouco abrasivo, que se encontra na Itália do sul, na Sicília e mesmo no sul da França e na Andaluzia. E até em Heraclion. Carácter que uma certa «Europa connosco», uma certa «Europa radarizada» (como escreveu José Afonso) despreza e procura à viva força domesticar.

Viana/Porto - 3 de Abril de 2007.

Bárbara Guimarães entrevista Paulo Kellerman, hoje (sexta-feira) no Páginas Soltas da SIC/N

É já hoje, sexta-feira dia 6 de Abril, pelas 20:40, que irá para o ar, no programa Páginas Soltas da Sic/Notícias, a entrevista de Bárbara Guimarães a Paulo Kellerman. Não levantaremos o véu, mas falar-se-á dos livros do Paulo (os últimos editados pela Deriva, Gastar Palavras e Os Mundos Separados que Partilhamos, terão particular destaque), do Prémio de Conto da APE 2005, da carreira literária do Paulo e de outros poetas e escritores que, de algum modo, se cruzaram com este autor. Foi, ao que nos dizem, uma entrevista que não se deve perder. Repetirá na segunda, pelas 15:00 e, depois, várias vezes, a estas horas.