Fedayn palestiniano em treino da OLP num campo da Jordânia. 1969
Foto de Bruno Barbey (1941-2020) Magnum
Este artigo de Jean Genet (1910-1986) saíu na Revista Zoom, no longínquo ano de 1971, tendo como base a exposição fotográfica, em Paris e sobre a Palestina, de Bruno Barbey, um fotojornalista que fez vários trabalhos para a Magnum. Vista a exposição por Genet publica-se agora parte desse artigo que fui encontrar no livro da Gallimard de 1991 - «L'Ennemi Déclaré» todo dedicado a entrevistas e pequenos artigos de jornais de Jean Genet e sob a responsabilidade de Albert Dichy. A foto exposta aqui é referida explicitamente pelo autor. Aqui fica a tradução (possível) do francês:
«(...) Dois mil anos de humilhações permitiram compreender os comportamentos - ou os mecanismos - da Psicologia e a sua utilidade à distância cronológica. Dois mil anos passados em guetos, ou sob falsa identidade civil, os judeus foram ameaçados de extermínio. Conhecem agora as mentiras dos que foram os seus mestres. Satânica ou divina, a Igreja Católica bate-os aos pontos em hipocrisia, em chantagem evangélica e em ameaças. Era necessário esperar. A contrapartida aos vexames é o conhecimento dos actos dos poderosos. Aqui cumprem-se agora dois mil anos de diáspora, morta a infame lenda de cobardia física. Os judeus não querem nem desaparecer, nem serem ''assimilados''. A nação judaica terá o seu território. Onde? No que é ainda, talvez, colonizável. Procura-se. Talvez no Uganda, na Argentina, na Rússia, mas Herzl tem o seu projecto, o retorno à ''terra prometida''. E, segundo a História escrita por um idiota mas ensinada às crianças, se os Judeus foram expulsos pelos romanos, os árabes pagarão por isso. A Palestina, camponesa, populosa, empobrecida pela administração otomana, resistirá às infiltrações de Judeus do mundo inteiro e finalmente enganada e dominada pelos ingleses em acordo com os movimentos sionistas nascentes, será invadida. Muito antes, mas sobretudo entre 1880 e 1940, na Europa cristã ou laica, o antissemitismo desenvolver-se-á entre pequenos progroms até Dachau e Auschwitz. A Europa massacra ou ameaça os Judeus quando, simultaneamente, Judeus massacram e ameaçam os árabes com a ajuda de soldados ingleses que pretendem uma ligação ao Médio Oriente de modo a proteger a rota da Índia. Desprezo, repressão, compra usurária, confisco de terras cultiváveis. Os Judeus aterrorizam, matam os árabes. Que europeu poderá reagir a isto?: a França mata os árabes da África do Norte, os malgaches, os indochineses, os negros de África subsaariana. A Inglaterra faz precisamente o mesmo fora do seu território. A Bélgica também. A Holanda na Indonésia, a Alemanha no Togo, a Itália na Etiópia e na Tripolitânia [Líbia], a Espanha em Marrocos, Portugal, nós sabemos onde (sic). Os sionistas são culpados e a Europa inteira é culpada do sionismo. Quando a Europa está obrigada a terminar com o colonialismo, a arte clássica da substituição, Israel soube descolar-se habilmente da protecção britânica para se prover, com bastante astúcia, sob o manto protector americano.
Os palestinianos, massacrados no seu próprio território, pegaram em armas para lá retornarem. Mas a Palestina tem agora o nome de Israel. Os palestinianos estão vivos. Encontrarão a Palestina, mas após um longo percurso que os obrigará, talvez, a conseguir provocar a revolução em todo o mundo árabe. O que não diz o feddaïn - o mártir - que se vê na imagem, é que ele sabe que não verá essa revolução cumprida, mas que a sua própria vitória é de a ter começado. Talvez ele não saiba que a sua imagem, malgrado os boicotes sionistas, vos está a ser facultada. Quanto a Israel, imaginado no final do século XIX para segurança, segundo é dito, dos Judeus tornar-se-á, bastante rapidamente, naquela parte da Ásia, a maior ofensiva e ameaça imperialista ocidental.» (páginas 89 e 90)