Gallimard, Folio documents, 2009
Jonathan Littell não é propriamente conhecido por ser um repórter de guerra, mas é sem dúvida um dos melhores escritores contemporâneos desde o seu "As Benevolentes" um dos livros mais crus sobre a guerra e os seus protagonistas, ocupantes e ocupados, algozes e vítimas, que alguma vez li. Não exagero. Reparei neste livrinho em Agosto e, por impulso, comprei-o num alfarrabista. Nem sequer sabia que existia, mas compreendi desde logo que a literatura escrita por Littell não é seguida por acaso. Ele sabe do que fala, isto é, do horror da guerra e das redes que a suportam. E são muitas: desde a corrupção gigantesca que lhe é associada a todos os níveis, até aos "desaparecimentos" selectivos, à tortura institucionalizada, às vinganças, aos raptos, à morte. Aqui o caso descrito, com alguma loucura dos repórteres, é a Chéchenia em guerra e a normalização e reconstrução que foi imposta por Kadyrov filho, talvez bem pior que a guerra de 2006 e 2009. Por outro lado, há questões que são pertinentes e levantadas por Littell fora da violência de Estado, mas ligada e este: trata-se da islamização forçada das instituições e particularmente sobre as mulheres nas repúblicas ex-soviéticas do Cáucaso. Este tipo de submissão é tanto mais grave quanto estas mulheres estavam há gerações afastadas de qualquer tipo de charia na antiga URSS. Mesmo que esse tipo de normalidade seja uma forma de estrangular o islamismo radical da jihad e aceitada pela Rússia de Putin. Trata-se de um jogo perigoso. Mas desses jogos estamos nós esclarecidos há muito. Desde o apoio de Bush e dos americanos a Bin Laden. E, por mais cínico que isso seja, eles sabem que nós sabemos. O povo do Cáucaso está claramente entalado entre duas escolhas más: os déspotas corruptos por um lado e o radicalismo islâmico do outro. Resta a resistência, sabendo que o preço dessa escolha é altíssimo.