sábado, outubro 21, 2023

As acções dos activistas climáticos são necessárias e urgentes

 

Lisboa, Maio de 2019, 2ª greve climática estudantil
Não subestimem as acções climáticas que se propagam cada vez mais na Europa e particularmente em Portugal. Quase sempre muito jovens, estudantes, portadores de uma cultura própria, são determinados a levar até ao fim os objectivos a que se propõem, mesmo com consequências legais graves para a sua vida futura. Levem-nos a sério, porque nada têm a perder. Olham para o lado e para cima, neste último caso para as instituições que nos governam e é com um grande cansaço e revolta que ouvem as suas palavras vazias. Se reparam em nós é para nos acusarem de inércia e desprezo pelo planeta e pelo ambiente. No fundo deixámos-lhes «isto». E não é agradável o que deixámos, mesmo que desde os anos 80, no início dos movimentos ecologistas, tenhamos avisado o que eles agora denunciam. Nessa altura também ouvimos o que eles ouvem agora, mas numa dimensão nunca vista hoje. Não os subestimem.

A repressão sobre eles é completamente desproporcionada por parte das forças policiais e da população. Vimo-los a serem barrados no direito de expressão pública, a serem presos e identificados, a serem denunciados por directores e reitores de instituições, a serem enxovalhados, agredidos e arrastados pelos cabelos na via pública quer por polícia, quer por público motorizado. 

Pior são os comentadores políticos. No dia 11 de Outubro, no Público, um juiz que é presidente de uma Associação Sindical dos Juízes Portugueses dá-se ao luxo de editar um artigo de «opinião» que não é mais do que um guia para a acusação destes jovens activistas.  O juiz-presidente-sindicalista afirma, sem qualquer problema de consciência sobre o que é a realidade, que as ações dos jovens que lutam por uma política ambiental que nos salve de um apocalipse anunciado, apresentam semelhanças com «atentados das organizações terroristas»; em ambos os casos, ou seja, das acções dos militantes ambientalistas e das organizações terroristas (ele não concretiza quais) tratam-se «de grupos organizados de pessoas unidas por uma ideologia comum, que planeiam e executam acções subversivas ilegais...», embora, mais à frente, declare que não é comparável uma «miúda partir a montra de um edifício» com um «bombista suicida»! Arrepende-se logo: «Mas o princípio é exactamente o mesmo...». Depois arrepende-se novamente e diz que os movimentos por um planeta melhor devem ser acarinhados e mete-se onde não deve que é a defesa de um mundo possível, ambientalmente são, mas «com aviões, automóveis e fábricas», coisas que os jovens querem erradicar da face da terra! Terra essa já em convulsão, mas o juiz-presidente-sindicalista quer a chuva no nabal e o sol na eira. Deixem a solução para a Ciência, diz ele.

O sr. juiz avança, lesto, após algumas considerações sobre esta coisa de pintar ministros de verde, a lista de crimes a que os jovens estão sujeitos não vá a polícia esquecer-se de os nomear nos relatórios. Cito: «Pintar montras e pintar fachadas é crime de dano. Interromper a circulação em estradas é crime de atentado à segurança de transporte rodoviário. Atirar tinta para cima de um ministro (sic) em exercício de funções é crime de ofensa à integridade física qualificada. Fundar, dirigir, ou pertencer a grupos ou organizações que se dediquem à criminalidade (sic) é crime de associação criminosa. Estes crimes são puníveis com penas de prisão elevadas (sic) e quem os pratica arrisca-se a consequências sérias.» Não subestimem igualmente o poder repressor dos tribunais, da polícia e dos comentadores como este juiz. Não se deixem levar pelas piadas jocosas dos ministros pintados de verde. Ninguém sabe das ordens dadas ao MAI por eles no segredo dos deuses. Mas essencialmente não deixem de levar a sério o activismo militante dos jovens ambientalistas pelo clima. Eles têm razão. E esperemos todos que levem a bom termo a denúncia das empresas com mãos sujas e de políticos que empurram os problemas para as calendas. Mesmo pintados de verde.