sexta-feira, outubro 13, 2023

«Uma Nova História do Mundo Clássico», de Tony Spawforth

Alma dos Livros, 2021. Tradução de Paulo Mendes
Título presunçoso tendo em conta ao que se propõe: uma «nova» história do mundo clássico! Sinceramente, nada encontrei de novo relativamente ao que se estudava há 45 anos. A saber: que o Linear A micénico ainda não foi decifrado (Done!); que Atenas e Esparta não se podiam ver (Done!); que, apesar de tudo, Esparta esteve a lutar ao lado de Atenas contra os Persas (Done!); que Homero era excepcional e que os seus poemas vieram até nós pela tradição oral (Done!); que os gregos eram requintadamente amantes da cultura, embora também fossem amantes entre homens (várias vezes realçado!) e as mulheres tivessem poucos direitos (Done!); que a Democracia não era benquista por Platão (Done!); e assim por diante... nada a declarar igualmente sobre Roma que é uma sucessão de lugares-comuns sem nada de verdadeiramente «novo» que instigue a aquisição da obra. 

O título do livro sugere a tendência de hoje no campo da divulgação histórica. Essa presunção do «novo» não é só sobre este livro. Basta passear pelas estantes das livrarias dos centros comerciais para ver que o vocábulo «novo» se implanta em qualquer livro principalmente nesta disciplina. Mas a insolência do «neo» acaba aqui. De facto, há qualquer coisa de novo no ar e que lemos neste livro em particular (mas há outros, há outros!): o recurso à experiência pessoal do autor, isto é, sem que seja necessário, ele diz que esteve presente na escavação tal ou tal, de modo a dar uma certa verosimilhança ao «estudado» mesmo que a escavações referidas não tenham dado em nada ou acrescentado algo de diferente do que já se sabia; a islamofobia latente em cada linha da exposição - chega a referir o «vandalismo islâmico», como coisa assente; ainda que de mansinho, uma simpatia não escondida e desculpabilizadora da acção de autocratas e imperadores como Nero ou Calígula, vítimas segundo ele de exageros contemporâneos. visto que eram amados pelo povo; o recurso irritante a comparações de imperadores ou políticos gregos e romanos com (imaginem!) Thatcher ou Trump; comparar a derrocada do império de Alexandre com a «Guerra dos Tronos» da Netflix, ou «chamar» a Rowling de «Harry Potter» para exemplificar os augures ou as pitonisas de Delfos é um exercício sublime de estupidez ou de uma puerilidade confrangedora.

Estamos de volta à história anedótica, personalizada, sem uma corrente de ar fresco que nos faça reconhecer e avançar nos estudos das instituições, da sociedade, da cultura, ou da economia dos povos. É pouco para um presunçoso e insolente «neo»!