Quando procuro hotéis para ficar uns tempos, procuro quase sempre aqueles que já demonstram, em todo o seu orgulho escondido, o passar do tempo. Quase sempre enormes, quando a possibilidade de ter um grande número de empregados a baixo preço era uma realidade, começam a apresentar fissuras nas paredes, as carpetes antigas a desfiarem-se, os sofás já um pouco puídos, os móveis quase sempre de madeira africana a exibir a sua excelência mas diminuídos por enormes pantalhas de televisores sempre ligados. Contudo, ainda existem estatuetas de anjos dourados na sala de jantar e candeeiros robustos, para além de mosaicos azuis e amarelos, agora em vinil tentando o ambiente oitocentista que se mistura com o chamado «vintage». Os novos empregados já não têm farda. Usam ténis e vêm de escolas profissionais de turismo, arreganhando simpatia, é certo, mas esquecendo-se de dar a provar o vinho. Condescendentes, sorrimos sempre dando-lhes ânimo para continuarem o trabalho sem grandes sobressaltos. Nos longos corredores já não passa ninguém. Só as responsáveis pelas limpezas matinais, falando alto e ligando as televisões dos quartos para estarem atualizadas com os programas da manhã. Entretanto, aspergem líquidos azuis e verdes para higienizar ambientes. Na recepção, mal damos pelos olhos dos que nos recebem: encontram-se ligados ao computador ou ao telemóvel, os sorrisos forçados, o olhar dirigindo-se para onde está o director, quase sempre escondido num gabinete.
Interessam-me sempre as pequenas grandes histórias dos enormes hóteis. Mas não as procuro lá dentro. Quase sempre a população que vive em pequenas vilas onde aqueles se impõem contam-nos toda a saga que fez o hotel de charme ser levantado. Nunca se duvide dessas histórias. Todas são verdadeiras.