sábado, dezembro 25, 2021

Os Anjos de Klee, de Ricardo Gil Soeiro

Os anjos de Klee

E existíamos como um só rosto.                
Esquecendo-me de propósito
onde eu começo e onde tu terminas,
desenhávamos uma flor na escuridão.
As palavras há muito deixaram de insistir:
são de uma paciência infinita.
Amanhã haverá vozes de sombras
que nos pintarão de perguntas
– o interstício de te voltar
a ver na curva do tempo.
Anjo morto, desperta do
teu sono e vem depressa
iluminar esta sede de um
silêncio que não existe.

Ricardo Gil Soeiro, Palimpsesto, pag.148, Deriva Editores, 2016