sábado, março 02, 2013

Eppur si muove, de João Pedro Mésseder. Um poema para um dia de luta

Gil Wolman

Eppur si muove

Em escadas insalubres há corações que vacilam
e em quartos escondidos anoitece a escassez.
Quantos tremem pelas ruas desse frio de alma e corpo?

Nos ecrãs, os sicários propalando a sua moral.
Mas a cupidez que os compra não se vê, nunca se vê.

Fecham fábricas e obras e lojas e serviços,
homens caem, sem amparo, no chão do tempo inútil,
emudecem grandes olhos de crianças, como punhos.

Nos ecrãs, os sicários propalando a sua moral.
Mas a cupidez que os compra não se vê, nunca se vê.

Em dias mais brumosos, até mesmo nesses dias,
colhem poetas adágios e silêncios muito azuis,
mas o seu canto naufraga em águas frias e turvas
quando cai de si abaixo a cidade atordoada.

Nos ecrãs, os sicários propalando a sua moral.
Mas a cupidez que os compra não se vê, nunca se vê.

A aflição como rotina, como regra a servidão.
Pesa a bruma, dizem uns, sobre as ruínas da cidade.
Outros dizem: já se move, já se move todavia.

João Pedro Mésseder
2 de Março de 2013